Uma Casa Cor de Rosa
(Extrato do livro Rio-Santos – Um Romance à Beira do Caminho, de autoria de Amin Safatle)
A cidade de Angra dos Reis estava animada com o progresso advindo da nova estrada ligando-a ao Rio de Janeiro pelo litoral. Solicitou do Ministério, a construção de um novo aeroporto para dar vazão ao movimento turístico. Graças à oportunidade e às circunstâncias políticas, o Ministro dos Transporte aprovou e incorporou a construção no contrato da Construtora Pedroso e Construção Rodoviária S.A.
Naquele trecho, a rodovia estava pronta e precisava construir o trevo de acesso ao aeroporto a partir da ponto do rio do Meio. As aças de acesso atravessavam uma pequena várzea, inundada pelo rio nos períodos de fortes chuvas. Buscando economia, o projetista desenhou a proteção dos aterros de encontros da ponto com o entroncamento tipo “rip-rap”. Para salvar das enchentes, a proteção deveria ser concluída antes das chuvas mais torrenciais.
À jusante da ponte a região era densamente habitada, com ruas largas e bem pavimentadas com pedregulho. Bem em frente à obra, nas margens do rio do Meio, um grande casa cor-de-rosa chamou a atenção do Dr. Gilberto e de Pedro Manco, seu auxiliar. Era um prostíbulo que mais parecia uma casa de veraneio. Um piso cimentado abrigava mesas e cadeiras guarnecidas por guarda-sóis coloridos. Uma bela construção, edificada na cota mais elevada, acima das maiores cheias ocorridas na região. A iluminação noturna chamava a atenção de quem passava nos arredores da mansão, e um acesso clandestino bem conservado ligava-a à rodovia em construção.
Em primeiro lugar, Gilberto e Pedro Manco foram até o local para escolher a melhor posição para montar o acampamento, para aquela obra específica do Aeroporto, pensando na logística dos materiais de areia ou pó de pedra, cimento e sacos de nylon de sessenta litros de capacidade.
O planejamento inicial previa ensacar os materiais na britagem de Monsuaba e transportar para o aterro do aeroporto. Pela experiência em outras obras similares, Pedro Manco sugeriu ensacar no local da aplicação, pois um saco de 60 litros pesaria 100 quilos. Dr. Gilberto analisou e concordou com a sugestão do experiente auxiliar.
Iniciada a obra, a mansão cor-de-rosa tornou-se o palco das atenções. As meninas seminuas se debruçavam nas espreguiçadeiras do pátio refletindo ao Sol seus corpos de cores bronzeadas. Diante daquela miragem, a produção do rip-rap ficou em segundo plano. Naquele ritmo de baixa produção, Gilberto concluiu que não terminaria o “rip-rap” antes do período chuvoso, e colocaria em risco os taludes do aterro.
Imediatamente, chamou o Pedro Manco e pediu para transferir os trabalhos para montante do rio, longe daquela visão hipnotizante e perturbadora. Apesar do pulso firme na condução de sua frente de trabalho, o Dr Gilberto não ficou imune às emoções dos acenos das tentadoras meninas, afinal de contas, ele não era de ferro!
Fora uma decisão sábia do engenheiro. Em quinze dias assentaram 1.200 sacos na lateral dos taludes, retornando, em seguida, para o lado da casa rosa, a fim de concluírem os trabalhos já iniciados.
A preocupação e a necessidade de finalizar no prazo de dez dias, fez o Dr Gilberto imbuir-se da promessa de oferecer um churrasco para toda a equipe, naquele local, debaixo da ponte, bem à vista da tão propalada casa rosa.
Concluída a obra na data prometida, o churrasco foi realizado com muita carne e pouca cerveja, para evitar bebedeiras. Gilberto improvisou a churrasqueira com uma roda velha de caminhão e os espetos com aço, com a ponta amassada. O Dr. Alberto participou do churrasco, muito contente pelo cumprimento do prazo. Enalteceu a equipe e, chamando cada um pelo nome, apertou a mão de todos.
– Zé das Carnes, sua mulher sabe da sua paquera da casa rosa?… E você, Mexerica, soube que não tirava os olhos das meninas. Cabeludo, você que é solteiro, conseguiu algum encontro – e, assim, brincava com todos.
Todavia, ele mesmo não tirava os olhos dos acenos tentadores da casa rosa.
Capa do livro RIO-SANTOS – Um Romance à Beira do Caminho, de Amin Safatle.