Três Ranchos por Jamil Sebba
Quando em 1930, acossados pela revolução da Aliança Liberal que era chefiada pelos gaúchos com Getúlio Vargas como bandeira, os alunos do Diocesano de Uberaba éramos obrigados a desocupar o grande estabelecimento de ensino, talvez para transformá-lo em quartel, tivemos que fazer uma complicada viagem para chegar à Catalão.
A Chevrolet Ramona que nos levaria de Uberaba a Estrela do Sul (o tráfego ferroviário, estava sendo vigiado ora por revoltosos ora por legalistas) incendiou-se após a primeira viagem que fizeram, justamente com os primeiros de Catalão.
Chegando em Estrela do Sul num outro carro, todo enfeitado de bandeiras vermelhas, escudos da Aliança Liberal, lenços vermelhos no pescoço, enfeites esses que fez o delegado de polícia pensar que éramos um perigoso grupo revolucionário e imediatamente mandou nos prender.
O Sr. Cornélio Reis teve trabalho para nos desvencilhar do astuto delegado e arranjar outro veículo que nós levasse até a Fazenda do Dr. Mundico de onde fomos a cavalo até o Porto Mão de Pau que fica a 12 kms de Três Ranchos (era fiscalizado esse porto por Hamilton da Paixão, filho do saudoso amigo Janjão). No porto, do lado de cá do rio estavam meu pai, Manoel Rosa e um Fordinho 29 que deveria nos levar a Catalão ainda no dia 23 de outubro de 1930.
Passamos na fazenda do Coronel Levino Lopes, onde existiam os famosos 3 Ranchos para boiadeiros, além da casa grande da Fazenda e a capela. Fizemos uma parada porque anoitecia e as grossas nuvens do fim de outubro ameaçavam impedir a nossa chegada por caminhos que só eram para carros de bois. E o Coronel Levino nos estimulando a prosseguir (se ficássemos teria que dar pouso para muita gente) dizendo-nos – “Não tem chuva que segura essas máquinas de hoje”…
E nós viemos, caindo, atolando, empurrando e só chegamos aqui depois da noticia da vitória da revolução, porque não atolou no caminho. Daí para cá só pude voltar a Três Ranchos depois de médico, quase 10 anos depois…
Travei conhecimento com Luiz Horta que trazia uma pequena botica e acompanhava os turmeiros que faziam a Estrada de Ferro da R.W.V. e a ponte sobre o Paranaíba, nos ligando com Minas Gerais. Com Luiz Horta, proveniente de Bonsucesso vieram José Barbosa, a sua cunhada Noêmia que mais tarde seria a esposa de Luiz Horta (Cotuta).
O pequeno povoado, servido por Estrada de Ferro, em pouco tempo cresceu e os belos diamantes encontrados no Rio Paranaíba, acabou canalizando muito garimpeiro e progresso para o pequenino Três Ranchos de boiadeiro, que tentou até mudar o nome para Paranaíba de Goiás, que graças a Deus, não pegou.
Provenientes do estado de Minas como Miguel Pereira, Godofredo e das fazendas do aquém Paranaíba, como Sandoval Carneiro (Valim) e seus irmãos Joviano, Inacinho, Ovídio e Amélia ou mesmo o próprio coronel Levino Lopes que deixou uma grande descendência, a cidade cresceu e em 1953 emancipou-se ficando à frente da prefeitura até 1954, o Sr. Quinca Bernardo.
O primeiro prefeito eleito foi o saudoso e benemérito Luiz Ribeiro Horta. O segundo Miguel Pereira e o terceiro novamente Luiz Horta. O quarto foi Neném Horta (Domingos Alves da Silva). O quinto novamente, Luiz Horta. Em sexto Inácio Pereira e, em sétimo, o atual Janete Lopes Pereira.
Fazemos esta nota despretensiosamente, mais como uma homenagem à um grande povo que começou a viver junto comigo e por quem tenho o maior respeito e grande admiração.
Jamil Sebba