Saberes do Congado: o fazer das caixas do Terno de Congo Nossa Senhora do Rosário Nossa Senhora da Guia

Uma paixão que faz “Tum Tum”…

Quem, em Catalão, Goiás, nunca acordou em plena madrugada com o batido das caixas de congo? Aquele som gostoso de ouvir e que nos passa uma vontade enorme de abrir janelas e portões para acompanhar o terno passar. Isso mesmo, são “elas”, as caixas que louvam Nossa Senhora do Rosário, padroeira da cidade e ditam o ritmo da festa.

Pensando nisso, neste ano de 2018, o Blog da Maysa Abrão acompanhou a confecção das caixas do Terno de Congo Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Guia. Uma experiência maravilhosa para quem sempre desejou saber como era o trabalho artesanal realizado pelos capitães e dançadores do congado catalano.

E assim fomos nós acompanhar essa arte que oferece muito trabalho ao nossos capitão, Sr. Edson Matos…

FOTO: Couro de boi esticado por dez dias no sol

FOTO: Cipó

Na tese “Foi assim que me contaram : recriação dos sentidos sagrados e profanos do Congado na Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário (Catalão-GO – 1940/2003). 2009. 257 f. Tese (Doutorado em História)-Universidade de Brasília, Brasília, 2009”, Cairo Mohamad Ibrahim Katrib relata:

AS CAIXAS DE PERCUSSÃO 

Sendo o dançador o soldado do exército de Nossa Senhora, em sua vestimenta, traz sempre as cores da veste da Santa. Essas cores falam por si só e são realçadas pelos sons dos instrumentos de percussão.

As caixas, segundo o senhor João Vicente Batista, capitão do Congado, “é o som que mantém acordados os nossos ancestrais durante a festa” (Entrevista, 2006). São elas, na opinião do depoente, que reforçam a comunicação do mundo dos vivos com as forças ancestrais e complementa: “as caixas são onde nossos entes africanos moram e são eles que nos protegem durante e depois da festa”.

No Congado em Catalão, as caixas de percussão são as mais utilizadas para ditar o ritmo da dança e da música. Elas são construídas artesanalmente com troncos de árvores esculpidos à mão e couro de boi curtido ao sol, escolhidos atentamente pelos que dominam o ofício. O senhor Edson Arruda confecciona com maestria esse instrumento e diz da dificuldade de manter esse costume nos grupos, pois a cada ano fica mais difícil conseguir a matéria-prima para o mesmo: A nossa Congada aqui tem um diferencial que a maioria das outras que acontecem pelo Brasil já perderam. Nós ainda mantemos quase que por completo o uso de caixas fabricadas por nós congadeiros. (Entrevista, 2003).

O narrador acrescenta que são poucos os congadeiros que dominam o ofício, ressaltando que:  Eu aprendi esse ofício com meu pai. Mas vou te falar uma coisa, não é fácil fazer tudo como ele ensinou porque muitos materiais não se encontram mais. Aí a gente foi adaptando daqui, mudando dali, mas a essência do processo continua. É ele também quem explica que, em Catalão, o que diferencia o Congo do Moçambique, do Vilão e dos Catupés são as caixas. Sabe, os Congos têm, como base da cantoria, o toque do tambor. As caixas fazem a marcação do ritmo, né? Elas são caixas mais estreitas que as usadas pelos Moçambiques que são mais cumpridas. Já no Catupé e no Vilão as caixas são bem grandes!