Registros da Academia Catalana de Letras – Erosão na área central de Catalão
A Academia Catalana de Letras recorda que, Catalão tinha uma área de esbarrancados muito profunda, bem no meio da cidade. Quem não conheceu o local, jamais poderia imaginar sua extensão e periculosidade. A erosão era secular e tinha cerca de 500.000 metros cúbicos de cratera, impedindo qualquer projeto de urbanização nas cercanias. Era tão profunda que, árvores altas de imbaúba (cerca de 15 metros), nascidas bem no fundo do canyon, nem alcançavam as bordas da cratera. E, isso tudo, bem próximo ao terreno da Santa Casa de Catalão, hospital recém construído na época e inaugurado em 1959.
O “esbarrancado da Santa Casa”, como passou a ser conhecido, ameaçava engolir qualquer edificação nas proximidades, necessitando de um serviço bastante pesado e demorado para sua eliminação. Mas, não era questão somente de entupimento ou enchimento de terra, o que já seria uma grande tarefa. Ter-se-ia primeiro que canalizar o rego d’água que corria pelo fundo do esbarrancado, responsável pelo seu constante desmoronamento.
A prefeitura, na época, não possuía o maquinário adequado para a empreitada e muito menos condições financeiras para os gastos.
Mesmo assim, o prefeito Paulo Hummel encarou tal desafio na primeira metade da década de 1960. Começou fazendo uma limpeza no lugar, que durou cerca de vinte dias, e ocupou mais de uma centena de operários. Depois, conseguiu junto ao DNER, através do engenheiro Antonio Coelho Vaz, o empréstimo de maquinário nos finais de semana. A prefeitura gratificava os operadores daquele órgão pelas horas extras cumpridas no maquinário. Também, vários proprietários de caminhões, em Catalão, colocaram seus veículos à disposição da prefeitura, em troca somente da gasolina. Entre eles, Anacleto Luiz, Edgar Silva, Antonio Tavares e Eurípedes Barsanulfo dos Reis.
O prefeito não era bem visto, na época, pelos militares e o governador de Goiás, Marechal Emílio Ribas, fora nomeado pela ditadura que tomou o poder em 1964. Mesmo assim, com o pedido do médico e ex-prefeito Jacy de Campos Netto, o Consórcio Rodoviário Intermunicipal cedeu caminhões, carregadeiras e motoniveladoras para a prefeitura de Catalão acelerar os serviços no esbarrancado.
A obra tornou-se um acontecimento. Muitos populares passavam horas assistindo aquele esforço braçal por parte dos operários e o ronco contínuo das máquinas removendo a terra. As manilhas, necessárias para drenagem no fundo da cratera, foram fabricadas pela própria prefeitura, em ritmo acelerado, consumindo mais de duzentos sacos de cimento. A batalha já estava sendo vencida quando opositores ao prefeito Paulo Hummel invadiram o canteiro de obras paralisando os serviços. No discurso apontaram defeito nos trabalhos e alertaram para o perigo de desmoronamento com as chuvas iminentes. Foi necessária a intervenção da polícia (tenente Alípio) e a manifestação dos moradores vizinhos (que apoiavam a prefeitura e arregaçavam as mangas ajudando no que fosse possível) para que as obras tivessem prosseguimento.
Por fim, o esbarrancado desapareceu, surgindo uma imensa área recuperada e nivelada dentro do possível, com potencial para dezenas de lotes vagos, bem no coração da cidade.
Sem dúvida, foi um dos mais benéficos e memoráveis feitos da antiga administração municipal de Catalão. Hoje, no local, existem sobrados modernos, órgão público estadual, consultórios, clínicas, residências, um prédio, um hotel e uma praça em frente à Santa Casa. Mas, nada teria sido possível, não fosse a tenacidade e disposição do prefeito Paulo Hummel, há mais de meio século atrás.
FOTO: Tipo de erosão existente na área central de Catalão
FOTO: Marechal Ribas Júnior e prefeito Paulo Hummel
FOTO: Livro de memórias de Paulo Hummel
FOTO: Praça em frente à Santa Casa de Catalão
Luís Estevam
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