Recordações da Academia Catalana de Letras – O Córrego do Almoço

A Academia Catalana de Letras recorda que, se existiu um lugar em Catalão que nunca teve o merecido descanso foi o Córrego do Almoço. Daqui a dois anos, irão completar 300 anos que os moradores utilizam do seu minguado curso d’água, para as mais diversas finalidades, sequer reconhecendo que ali foi lançada a semente que deu origem a esta bela cidade.

Primeiro, o córrego serviu para saciar a sede dos companheiros do Anhanguera, refazendo o ânimo dos expedicionários para prosseguir viagem à procura de ouro. Depois, como reza a tradição, o manancial esteve nos limites da propriedade fundada pelo imigrante pioneiro no Sítio do Catalão. Quase um século após, esteve inserido no terreno doado por um fazendeiro para criar a paróquia Mãe de Deus quando já se formava o Arraial do Catalão. Mais tarde, registros esparsos apontam o Córrego do Almoço, no final do século XIX, como ponto de descanso para tropas e boiadas que cruzavam a cidade rumo às invernadas do Triângulo Mineiro.

Foi também local de tocaia e ponto de encontro marcado para acerto de contas, fora da cidade, entre jagunços, moradores e coronéis. Quando um visitante não era bem vindo, era sempre esperado na passagem do Córrego do Almoço. Quando alguém era expulso da cidade, era fortemente acompanhado até o Córrego do Almoço, lugar onde muitos criminosos lavaram suas facas antes de fugir rumo às barrancas do Rio Paranaíba.

Quando vieram os trilhos da estrada de ferro, na década de 1910, os engenheiros da ferrovia encontraram no manancial um ponto de abastecimento para as velhas locomotivas a vapor. O Córrego do Almoço ganhou então uma imensa caixa d’água para servir as resfolegantes e sedentas máquinas da estrada de ferro.

No tempo em que a cidade ainda se resumia na Rua da Grota, o local continuou sendo a principal porta de entrada e saída do aglomerado urbano. Não existia ponte, somente uma pinguela e pelo leito do córrego cruzavam os carros de boi e as carroças de leite das redondezas.

O lugar, na verdade, era um entroncamento. Por ali passava a velha estrada para Goiandira e no lado oposto ficava a saída para o Triângulo Mineiro. Motoristas de ônibus e jardineiras, a partir da metade do século passado, começaram a usar o vau do córrego como posto de lavagem dos veículos e a moda pegou também entre moradores da cidade.

O córrego definhava até que, na metade da década de 1960, o prefeito Paulo Hummel construiu um pontilhão sobre a pequena correnteza, protegeu suas margens e urbanizou a área.

Mas, o alívio durou pouco. Conforme registrou no seu livro “O Eco do Passado”, a iniciativa não foi adiante. Nas palavras de Paulo Hummel, “ao invés de preservar e ampliar aquela benfeitoria, mais uma vez a ignorância falou mais alto. Teve um prefeito que mandou destruir tudo e canalizou o córrego, acabando com o belo recanto existente, que tanto havíamos valorizado”.
Desse modo, o sítio embrionário da cidade foi sendo, aos poucos, apagado. O Córrego do Almoço, assim batizado há quase 300 anos, não sobreviveu. Suas nascentes
ficaram comprometidas com a urbanização.

Mas o local continua quase intacto. Embora nem todos os catalanos saibam, foi lá que tudo começou. Ali o bandeirante Anhanguera lavou suas botas para seguir em frente e, nas cercanias do manancial, o indivíduo catalão edificou morada há três séculos atrás.

Não é um lugar qualquer. Para os moradores deveria ser um santuário pelo que representa na memória da cidade.

FOTO: Revitalização do Córrego do Almoço feita pelo prefeito Paulo Hummel em 1965. (Fonte: O Eco do Passado)

FOTO: Vazão atual do Córrego do Almoço.

FOTO: Atual caminho rumo ao Pirapitinga.

FOTO: Local onde existiu a caixa d’água da ferrovia.

FOTO: Terreno onde existiu a Praça do Córrego do Almoço

(Luís Estevam)

 

 

 

 

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