Recordações da Academia Catalana de Letras – Leovil Evangelista da Fonseca

A Academia Catalana de Letras recorda que, Catalão teve um prefeito que não agiu como político na sua gestão. Comportou-se como empresário e benfeitor público obedecendo apenas suas próprias convicções. Logo ao assumir nomeou uma equipe técnica de assessores independente de cor partidária. Baseou-se na capacidade e competência de cada um. Inclusive, o secretário escolhido para gerir as finanças do município pertencia ao partido adversário. Realizou muitas obras mas não gastou um centavo com foguetes e inaugurações. Utilizava o próprio carro nos trabalhos cotidianos da prefeitura e sequer abastecia o veículo com dinheiro público.

O prefeito Leovil Evangelista da Fonseca trabalhou inteiramente de graça. Os salários, a que mensalmente tinha direito, foram aplicados na construção de casas para a população mais pobre do município. Foi assim que surgiu a Vila Raulina, na encosta do Morro das Três Cruzes, inicialmente com 32 casas que edificou utilizando os seus rendimentos pessoais.

O cenário político, na metade da década de 1960, esteve bastante conturbado em Catalão. Os militares haviam tomado o poder no Brasil e os grupos políticos foram sendo redefinidos naquele difícil momento de transição. O prefeito anterior, Osark Vieira Leite, havia sido afastado pelos vereadores e Paulo Hummel acabava de cumprir uma bem sucedida gestão. Nesse quadro, Leovil Evangelista foi indicado como candidato a prefeito quase que por acaso. Nunca tinha sido diretamente um político partidário. O expoente conhecido de sua família era o irmão Genervino Evangelista da Fonseca.

Leovil, filho de numerosa família de Cumari, teve que trabalhar desde menino, sendo obrigado a adiar até mesmo sua formação educacional. Para se ter uma ideia, quando foi eleito prefeito ainda estava concluindo o curso ginasial e somente bem depois cursou Direito na Universidade Federal de Uberlândia. Sua vida adulta foi de trabalho na fazenda e na indústria. Como empresário, foi sócio de seu irmão Genervino e do amigo Nilo Margon na charqueada Irmãos Fonseca.

Leovil sempre foi extremamente franco, direto e sincero em suas decisões e atitudes. Geralmente o oposto de qualquer político candidato a prefeito de uma cidade. Por isso, na campanha eleitoral, seus companheiros preferiram muitas vezes esconde-lo do que apresenta-lo. Leovil sempre recusava a fazer favores pessoais ou praticar assistencialismo com dinheiro público. Achava que os recursos deveriam ser empregados em programas que beneficiassem a todos e não somente algum morador em particular. Dizia que, caridade não se faz com dinheiro público. Por isso, tomava decisões tão singulares que hoje fazem parte da memória político-administrativa da cidade.

No serviço de água encanada, por exemplo, quem não pagava mandava cortar. E a lei era para todos. Ordenou, inclusive, o corte do fornecimento de água para a residência do Juiz de Direito do município por falta de pagamento. Instituiu multa para motoristas que estacionassem em locais proibidos no centro da cidade. Uma das primeiras multas foi para a própria esposa que teve de pagar sem apelação.

Em termos políticos, Leovil se mostrou inteiramente independente. Escolheu a própria assessoria com base no profissionalismo e capacidade de cada um e não por indicações de partidos. Vereadores, certa vez, quiseram mudar o nome da Rua Dr. Pedro Ludovico para Rua Marechal Castelo Branco no intuito de homenagear o presidente da república. Além de vetar o projeto, o prefeito rebateu que: “Pedro Ludovico ainda continua sendo uma das reservas morais deste Estado”. De outra feita, logo no início do mandato, Leovil foi a Goiânia levar algumas reivindicações de Catalão para o governador Otávio Lage. Não foi recebido, em função de agendamento, por duas vezes. Deixou um recado com o chefe de gabinete: “Diga ao governador que não volto mais aqui. Pelo menos não perco o meu tempo e nem ele o dele”. Não retornou mais. Diante do fato, Otávio Lage enviou representante a Catalão para atender a reivindicação do prefeito, que era a construção de 200 casas populares para fundar a Vila Liberdade.

Leovil economizava recursos onde fosse possível. Construiu uma rodoviária, onde hoje está a prefeitura e, no outro dia liberou para funcionamento. Não gostava de foguetes e gastos com inauguração. Era um verdadeiro guardião do dinheiro público. De certa feita, as madres agostinianas do Colégio Mãe de Deus foram ao seu gabinete solicitar que perdoasse multas em boletos de imposto municipal do colégio. Leovil preencheu uma folha de cheque de sua conta particular no valor das multas e disse: “Reclamação atendida”. Pagou a multa para as madres e não onerou os cofres do município.

Por fim, era um prefeito muito enérgico na defesa do patrimônio público. De certa feita, um cidadão destruiu maldosamente mudas que a prefeitura estivera plantando em uma avenida central da cidade. Leovil mandou prender o culpado, dirigiu -se à rádio e convidou o povo para assistir o espetáculo. O cidadão foi obrigado a replantar as mudas danificadas ao longo da avenida, sob o olhar curioso dos moradores.

Durante todo o seu mandato, Leovil prestava contas diariamente dos recursos gastos e recebidos na sua administração. Usava o quadro de avisos da prefeitura e os programas radiofônicos para divulgação. Deixou a prefeitura sem problemas financeiros com os fornecedores e servidores pagos.

Assim foi a gestão de Leovil Evangelista da Fonseca. Um homem acima de querelas políticas e abaixo apenas de suas próprias convicções.

Luís Estevam

 

 

 

 

 

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