Recordações da Academia Catalana de Letras – A Gripe Espanhola

A Academia Catalana de Letras recorda que, a cachaça foi um dos ingredientes mais usados no combate à gripe espanhola no Brasil. Inclusive, a “caipirinha” foi inventada pelos paulistas como alternativa de prevenção e de medicamento para os infectados.

Assim como no restante do país, em Catalão e Ipameri a gripe espanhola ceifou muitas vidas. O veículo transmissor foi a estrada de ferro que tinha, nestas duas cidades, a parada final dos trilhos que vinham de São Paulo.

Porém, quando tudo terminou e o mal foi debelado, o Rio de Janeiro promoveu um belo carnaval com a temática da crise que findara, São Paulo tornou a caipirinha uma bebida social e, em Catalão, Ricardo Paranhos escreveu sobre as virtudes da cachaça.

O flagelo da gripe começou na Europa com o primeiro conflito internacional e foi chamado inicialmente de “febre das trincheiras”. Porém, no final da guerra uma nova onda de gripe se espalhou pelo mundo, atingindo os lugares mais inusitados do planeta. Desde então, a doença ficou conhecida como “gripe espanhola”.

No Brasil, a epidemia chegou em 1918, quando o navio Demerara, procedente da Europa, trouxe ex-combatentes infectados (sem saber que estavam com o vírus) desembarcando-os no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro.

No mês seguinte o país estava submerso na doença. O flagelo atingiu, desde os humildes trabalhadores até as camadas mais ricas da população. O próprio presidente Rodrigues Alves foi vitimado pela gripe em janeiro de 1919. A doença começou varrendo o Rio de Janeiro e São Paulo ocasionando milhares de óbitos. Na falta de orientação e medicamentos adequados, a população de São Paulo recorreu em peso a um remédio caseiro: cachaça com limão e mel. O consumo foi tamanho que o preço do limão disparou e a fruta desapareceu das mercearias. Na época, uma das peças teatrais de maior sucesso em São Paulo era “A Caipirinha”. De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), o xarope se popularizou tal como o espetáculo teatral e nasceu o coquetel batizado de “caipirinha”.

Em Goiás, a doença começou em Catalão e Ipameri, no final de 1918, trazida pela ferrovia paulista Mogiana, contaminando as estações até o final dos trilhos, ou seja, Ipameri e Catalão.
Em Ipameri, comunicados do intendente e do juiz municipal informaram que a população estava prostada. Haviam cerca de 1.800 pessoas atingidas e muitas mortes. Em menos de três semanas 38 pessoas morreram em Ipameri. Em Catalão, um alferes telegrafou na ocasião, noticiando que, todo o destacamento militar, inclusive o comandante, estava “guardando leito” por causa da gripe.

O levantamento histórico da doença em Goiás foi feito pelo professor Eliezer Cardoso de Oliveira da Universidade Estadual de Goiás. Nele se constata que a epidemia atingiu, em 1919, a velha capital do estado, além de Anápolis, Rio Verde e o distrito de Caldas Novas.

Na Cidade de Goiás, somente no mês de janeiro, mais de 80 pessoas foram vitimadas pela gripe. Número muito elevado para uma população com menos de 8.000 habitantes. A peste também deixou baixas em Anápolis e avançou pelo norte do estado contabilizando vítimas.

Esclarece o professor Eliezer que, o número de pessoas mortas pela doença em Goiás é desconhecido devido à falta de registros de atendimentos e óbitos. Mas, o impacto foi recuperado por meio de relatos, telegramas, documentos oficiais e jornais da época.

Finalmente, com as medidas de proteção tomadas em 1919 tudo voltou ao normal. O furacão da febre foi afastado. O Rio de Janeiro comemorou no carnaval o “Chá da Meia-Noite” em alusão à doença extirpada. Em São Paulo, a caipirinha deixou de ser medicamento contra a gripe e se tornou um apreciado coquetel. Em Catalão, Ricardo Paranhos deixou um escrito sobre as virtudes da cachaça. Não como medicamento para a gripe, e sim como necessidade do espírito.

Nas palavras do poeta catalano: “Como é sabido, a pinga é uma bebida milagrosa, porque serve para tudo. Se encalorados nos achamos, tomamo-la como refresco; se com frio, ela nos esquenta. Bebemo-la quando alegres, como quando estamos tristes. Tomada antes das refeições, é excelente aperitivo; tomada depois, auxilia a digestão. Dá coragem aos pusilanimes, força aos fracos, graça aos desenxabidos, resignação aos aflitos, atividade aos ociosos. Dá também inspiração, motivo porque é tão querida dos intelectuais, mormente dos poetas. Quanto não tem ela concorrido para o desenvolvimento de nossa literatura! Quantos e quantos livros de poesias, que lemos com prazer e orgulho, não foram escritos sob a benéfica influência dela”.

Estas foram as palavras de Ricardo Paranhos. Todavia, o mundo evoluiu. Hoje temos remédios bem mais eficazes contra a gripe e motivos bem mais elevados para fazer literatura. Mas, antigamente era assim.

FOTO: Comunicado da Cruz Vermelha em combate à doença (1918).

FOTO: Jornal do Rio de Janeiro em outubro de 1918.

FOTO: Presidente Rodrigues Alves vitimado pela gripe em 1919.

FOTO: Ingredientes utilizados na época como medicamentos.

FOTO: O poeta catalano Ricardo Paranhos (1866-1941).

FOTO: Ação contra a gripe na Europa em 1918

 

Luís Estevam

 

 

 

 

 

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