QUE VENHAM NOVOS TEMPOS

Foi com certo enfado que assisti, algum tempo atrás, o último compromisso da seleção brasileira de futebol nas eliminatórias para a Copa do Mundo do Katar, contra a Bolívia. Fui dormir após o segundo gol da equipe nacional, num jogo que terminou em 4 X 0, e o time brasileiro fez uma boa apresentação, em condições adversas de altitude e na casa do rival. É certo que a equipe já estava classificada e a partida não tinha em si nada de emocionante. Tudo bem, mas o evento me mostrou outras conclusões.
Na verdade, pouca diferença faria se a partida não tivesse sido vencida. Ou se o Brasil nem tivesse se classificado para essa Copa do Mundo. Foi-se o tempo que a seleção era a pátria de chuteiras e o Maracanã recebia 200 mil pessoas para uma partida similar. Depois de tantos maltratos por parte de dirigentes corruptos, a venda de craques para o exterior, a publicidade acima do torcedor, o direito da transmissão mais relevante do que o torcedor no estádio, a logomarca do anunciante mais destacada que o escudo do time na camiseta, os torneios caça-níqueis, site de apostas patrocinando equipes, nem sei qual campeonato o meu time disputa…
Tanto fizeram os nossos cartolas que o futebol brasileiro foi perdendo a sua magia, seu encanto, sua beleza e pode seguir rumo à mediocridade. O futebol que encantou o mundo com craques incomparáveis, como Pelé, Garrincha, Didi, Zico, Rivelino, Ronaldo, Ronaldinho e tantos outros, vem se definhando, não por culpa dos atletas. A menos de dois meses da Copa do Mundo, pouca expectativa e ansiedade o evento desperta na maioria população.
Claro que estarei na torcida… apenas registro esse sentimento de desencanto, que percebo não ser somente meu.
Uma analogia com o nosso quadro político não é mera coincidência. Depois de 200 anos da independência e 132 da proclamação da república, inaugurada com um golpe de estado, tanto aprontaram os nossos políticos, com desvios de verbas, mordomias, corrupção e todos os tipos de roubalheira, que hoje, lamentavelmente, grande parte da população tem repulsa pela política. E nas eleições que se avizinham, infelizmente, não se vislumbra efetivas opções para as reformas necessárias.
O florão das Américas, a grande esperança dos fundadores da nação, dos povos nativos e de tantos imigrantes que aqui aportaram, inclusive os escravizados, insiste em patinar, em não buscar um rumo do progresso sustentável, da concórdia, da justiça e da igualdade. Há tempos, assemelha-se a um grande barco à deriva. Um país que dispõe de tudo para ser um exemplo para o mundo, vê hoje seus jovens aventurarem-se no estrangeiro, por descrença na sua pátria.
Talvez seja o prenúncio de uma mudança de era. Um novo tempo em que o “brado retumbante” do nosso povo tenha de ser ouvido. Que nossos políticos tenham a grandeza de se comporem em torno das mudanças urgentes e necessárias.
Viva 7 DE SETEMBRO!
Por Paulo Hummel Jr