O (E)TERNO RIBEIRÃO PIRAPITINGA
Catalão surgiu dentro de um vale muito bonito, no fundo do qual corria bravamente o ribeirão Pirapitinga. Os primeiros moradores devem ter se encantado com o relevo do local, não só pelo córrego, mas também pelas duas elevações estrategicamente colocadas pela natureza, uma ao norte e outra ao sul, batizadas de Morro da Saudade e Morro das Três Cruzes.
Nesse belo cenário viveram muitas gerações. Durante mais de dois séculos, ranchos, casas de adobe, alvenaria e sobrados foram surgindo paralelas ao ribeirão formando o povoado, o arraial, a vila e a cidade do Catalão. O Pirapitinga era o centro de tudo e pelo seu leito escorria a história de cada geração que habitou o vale. E também escorriam, é claro, os rejeitos das indústrias e os dejetos das moradias urbanas.
O manancial era lugar de lavagem de roupas, pescaria, caçadas, lazer da meninada e cenário de namorados. Antigamente o córrego exibia uma forte correnteza, fluía límpido e cristalino, cheio de peixes. Inclusive, o nome Pirapitinga significa “peixe da casca branca” em tupi-guarani.
Todavia, a proximidade com o córrego acabou trazendo contratempos e problemas para a comunidade. Primeiro em termos de travessia. Depois com relação ao meio ambiente.
No decorrer do tempo foram se formando, de um lado e outro do manancial, pequenos núcleos de moradias, exigindo pinguelas e pontes de travessia. Rua da Grota de um lado, Rua do Pio do outro lado do córrego. Rua do Comércio de um lado, rua da Capoeira do outro e assim por diante: Marca-Tempo de um lado e São João no lado oposto.
Primeiro, a iniciativa de construir pinguelas e pontes era dos próprios moradores. Quem edificava uma passagem sobre o córrego sentia-se no direito de cobrar pedágio. Pontes tinham poucas. À montante do ribeirão existia uma, nas imediações do velho mercado, feita com esteios de aroeira, conhecida como ponte do Miguel Carroçeiro. Bem abaixo havia uma pinguela e, logo depois, uma passagem indicada como Vau do Alfredo que dava acesso à rua da Capoeira. À jusante do córrego tinha apenas duas: uma feita pelo construtor Joaquim de Araújo, na entrada da Rua do Pio e a ponte dos Margon, exclusiva de suas empresas e empregados.
Vários desentendimentos, rixas e discussões aconteceram em função dessas pinguelas e pontes de Catalão. Inclusive, o português Joaquim de Araújo foi morto em uma delas em fevereiro de 1909, com apenas 42 anos de idade. Para amenizar as desavenças, mais tarde, a colônia sírio-libanesa ergueu uma ponte perto do cemitério para toda a população.
Com o tempo, surgiram problemas sanitários e de meio ambiente no Pirapitinga. O manancial se tornou um esgoto a céu aberto, depositário de todo o lixo da cidade. Era local de desova de cachorros e cavalos mortos, carcaças de animais de açougues, além de receber os esgotos residenciais. Por cima, as indústrias de Catalão despejavam no Pirapitinga praticamente todos os resíduos descartáveis.
No início da década de 1970, o córrego estava tão poluído que virou caso de saúde pública, carecendo de imediatas providências de saneamento.
O prefeito da época, Sílvio Paschoal, conseguiu recursos federais para iniciar a canalização, tendo de desapropriar áreas limítrofes ao córrego, até invadindo terrenos particulares de moradores da cidade.
Não foi fácil. Silvio Paschoal enfrentou ameaças, ações na justiça, foi taxado de invasor de quintais, conviveu com o ódio de algumas famílias, mas não fraquejou. Conseguiu realizar um quilômetro de canalização e urbanizar a área com duas pistas, bem no centro da cidade.
Os moradores que foram desapropriados em parte do terreno, no fundo de seus quintais, descobriram, enfim, as vantagens da valorização imobiliária. Tanto que, em prolongamentos posteriores de canalização, os primeiros a reivindicar os benefícios foram os proprietários de lotes adjacentes ao córrego.
Assim foi o começo das obras no Pirapitinga. Daí em diante, outros administradores se empenharam em estender adiante a canalização.
Hoje, o terno e eterno ribeirão está se transformando em cartão postal da cidade. A canalização e os parques limítrofes que o prefeito Adib Elias Júnior continua implantando ao longo do córrego, embelezam o percurso e fornecem largas opções de mobilidade urbana para os moradores.
Neste mês, mais uma etapa será festivamente inaugurada para alegria da população. O empenho e a realização do atual prefeito ficarão devidamente imortalizados.
Luís Estevam