Normalmente, quando pensamos em Halloween, ou Dia das Bruxas, imagens como fantasias, doces e abóboras esculpidas com rostos medonhos vêm à nossa cabeça. Mas não foi sempre assim, como explica Ana Carolina Chiovatto, doutoranda em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Segundo ela, as origens das celebrações baseiam-se na sobreposição de diversas culturas, com a presença de festividades e rituais de diversos povos que aconteciam no mesmo período.
Uma das origens do Halloween é o festival celta Samhain, que marcava o fim do período de colheita, e era seguido do festival do Dia dos Mortos, quando, supostamente, aqueles que se foram poderiam circular no mundo dos vivos. A cultura celta contempla diversos povos que viviam na Europa e tinham cultos em comum. “Essas festividades são comumente chamadas de pagãs, um termo enviesado, já que pensamos no paganismo em oposição ao cristianismo como ponto de vista dominante”, afirma Ana.
Com a conquista pelos romanos e a cristianização desses povos, muitos desses cultos começam a ser modificados. “Os festivais celtas estavam relacionados à fertilidade, tanto da terra e dos animais quanto das pessoas, o que, para os cristãos, era considerado bárbaro. Por isso, houve uma tentativa de apagamento desses rituais”, aponta ela.
FOTO: Samhan é um festival gaélico que marca o final da temporada de colheita e o início do inverno. Tradicionalmente, era visto como um momento liminar, quando a fronteira entre este mundo e o “outro mundo” poderia ser mais facilmente cruzada, significando que os ‘espíritos’ e as ‘fadas’, poderiam mais facilmente entrar em nosso mundo. Por isso, ofertas de comida e bebida eram deixadas para eles. – Foto: Mihaela Bodlovic via Wikimedia Commons
Os povos cristãos, então, passaram a celebrar seus mortos no dia 2 de novembro e, no dia em que os celtas celebravam o Dia dos Mortos (1º), instituem o Dia de Todos os Santos. “O cristianismo instituiu o Dia de Todos os Santos porque, segundo sua visão, são eles os mortos aos quais devemos prestar culto”, diz Ana. Além disso, para a visão cristã, a ideia de que as almas pudessem circular no mundo dos vivos era extremamente pagã. “Por isso, os cristãos distanciaram-se da celebração celta: o Halloween (31), véspera do Dia de Todas as Almas (all hallows’ eve) distancia-se da sua origem”, ela explica.
Ana esclarece, por fim, que hoje o 31 de outubro possui dois lados: um das religiões neopagãs, que buscam reavivar o sentido do Samhain; e o outro, do festival relido pelo cristianismo, que vai se converter na festa infantil das “gostosuras ou travessuras”, tão comum nos Estados Unidos, com a qual temos contato e, aos poucos, vamos incorporando.
FOTO: Ana Carolina Chiovatto – Foto: Repdodução/Academia.edu