Movimento Estudantil – Memórias e Lutas: Os 30 Anos do Congresso da UEE Goiás em Catalão

Prof. Dr. Ronaldo da Silva e Prof. Mestrando Sousa Filho
 
O ano era 1995. Há 30 anos, Catalão foi sede do Congresso da União Estadual dos Estudantes de Goiás (UEE-GO), entidade criada em 1950 e vinculada à União Nacional dos Estudantes (UNE), representando os estudantes do ensino superior no estado. O congresso aconteceu em um momento de intenso idealismo e efervescência política.
 
Os sonhos eram muitos. Vivíamos um período em que questões políticas internacionais, nacionais e locais nos mobilizavam, e a disposição para a luta era ilimitada. Um exemplo disso era a situação do ensino superior público em Catalão, que ainda dependia de um convênio entre a prefeitura e o Ministério da Educação (MEC). Essa parceria, estabelecida nos anos 1980, possibilitou a criação da base do que viria a ser o ensino superior público federal na cidade. Os impasses eram o combustível constante para nossas mobilizações. Em meio a esse cenário, o campus cresceu, acumulou forças, e novos cursos foram sendo criados, atendendo aos anseios de toda uma região.
 
Naquele momento, sonhávamos com uma universidade pública, autônoma e federal em Catalão. As discussões no congresso iam além das questões educacionais e abordavam análises da conjuntura internacional, nacional e das problemáticas locais.
 
A década anterior havia sido marcada por intensos movimentos políticos. É importante lembrar que, naquele ano de 1995, o país comemorava 10 anos do fim da Ditadura Militar, encerrada em 1985. Mesmo com a frustração da não aprovação da Emenda Dante de Oliveira, que propunha eleições diretas, o Brasil elegeu, de forma indireta, seu primeiro presidente civil após 21 anos de regime militar. A transição democrática avançava, impulsionada pelas mobilizações populares que tomaram o país.
 
O ápice dessa nova fase democrática veio em 1989, com a primeira eleição presidencial direta. A disputa entre Collor de Mello e Lula foi marcada por forte influência do capital, preconceitos de classe e raça, e pela interferência dos grandes veículos de comunicação, que ajudaram a eleger Collor. Contudo, sua gestão logo revelou-se desastrosa, com medidas impopulares como o confisco das cadernetas de poupança, gerando revolta em todo o país.
 
Em 1992, a indignação popular culminou nas manifestações pelo impeachment de Collor, marcando novamente a força do movimento estudantil e da sociedade brasileira. Ele foi cassado em setembro daquele ano.
 
Três anos depois, em 1995, a realização do Congresso da UEE em Catalão renovava nosso idealismo. Acreditávamos que outro mundo era possível. Muitos jovens participaram desse momento histórico. Estávamos na linha de frente: Sousa Filho, estudante de Matemática na época, que mais tarde migrou para a Geografia; Mamede Leão, concluindo História; Ronaldo da Silva, iniciando Geografia; além de tantos outros, como Ronivaldo (Xexéu), Vânia Rodrigues e Dinalva Ribeiro.
 
O movimento estudantil, com um papel crucial na história política nacional, também liderava lutas importantes em Catalão. Ainda em 1995, os vereadores locais criaram cargos de gabinete destinados a familiares, gerando grande revolta. A partir de uma denúncia de João Enéas ao Ministério Público, o movimento estudantil encabeçou mobilizações, marcando presença em todas as sessões da Câmara Municipal e cobrando o fim desses privilégios. Após muita luta, os cargos foram extintos.
 
Paralelamente, continuávamos na batalha pela consolidação da universidade pública, gratuita e de qualidade em Catalão. Esse sonho tornou-se realidade em 2015, quando a presidenta Dilma Rousseff anunciou a criação de duas novas universidades federais em Goiás, sendo uma delas em Catalão. Hoje, a UFCat é um orgulho para todos nós, transformando vidas e impulsionando a cidade econômica, científica e socialmente.
 
Em 1995, o campus da UFG em Catalão tinha apenas seis cursos de licenciatura, centenas de estudantes e menos de uma centena de docentes e servidores técnico-administrativos. Em 2025, a UFCat possui cerca de 30 cursos de graduação, entre licenciaturas, engenharias e medicina, além de aproximadamente 4 mil estudantes, 300 docentes e mais de uma centena de servidores técnico-administrativos. Com nove cursos de mestrado e quatro de doutorado, a UFCat mantém parcerias com universidades do Brasil e do mundo.
 
Economicamente, a UFCat injeta entre 15 e 20 milhões de reais mensais na economia local por meio de salários, bolsas, orçamento e outros incentivos. É, sem dúvida, uma potência transformadora em Catalão.
 
Trinta anos depois, Sousa Filho, agora professor e mestrando, orientando do Prof. Ronaldo da Silva, relembramos com orgulho aquele evento histórico. Movimentações que nos fortaleceu na crença de que éramos capazes de mudar o mundo.
 
Em tempos sombrios como os atuais, revisitamos essa memória como um lembrete de que o idealismo, a luta e a esperança ainda nos movem. Sem anistia aos golpistas. Viva a Democracia. Ainda estamos aqui.
 
Mauricio da Stampa, Karina, Márcio Melo, Carminha, Acilonete, Ronaldo da Silva, Vânia Rodrigues, César, Sousa Filho, Orizeni, Sandrinha e Mamede