MEMORIAL DA VELHA MATRIZ

Em 16 de junho de 1933, durante toda a manhã, os sinos da Igreja Matriz de Catalão (Velha Matriz) repicavam com tristeza. Rezava-se missa de corpo presente pelo falecimento do vigário da cidade, Agostinho Camarzana, que morrera naquela noite.
O corpo do padre espanhol foi amortalhado com o hábito da ordem agostiniana, vestido com os paramentos de celebrar missa, cor roxa, acomodado em um caixão no interior da igreja, na parte dianteira da nave central.
Diante do seu cadáver desfilou toda a população católica de Catalão que, logo após, seguiu em cortejo até o cemitério municipal.
O padre, de 55 anos de idade, havia acabado de reconstruir a igreja e preparava-se para descansar, visitando sua família na Espanha, quando foi surpreendido por uma doença cardíaca que o levou rapidamente para perto de Deus.
O vigário jamais iria imaginar que a nova igreja, reconstruída com tanto esmero, envergando vistosa fachada, longa torre e vários altares, seria o local do seu próprio velório.
Na época do padre Agostinho, a igreja era conhecida como a Matriz de Catalão. Depois, sem sofrer qualquer mudança no seu aspecto arquitetônico, tornou-se a Velha Matriz, tal como a conhecemos na atualidade.
Na verdade, foi a segunda igreja edificada naquele local.
A ideia de se construir uma igreja naquele largo terreno, baldio e desocupado, surgira ainda nos tempos da monarquia. Desde a Independência do Brasil, Catalão já possuía uma antiga capela, em homenagem a N.S. Mãe de Deus, no alto da (atual) Praça Getúlio Vargas. No entanto, era uma simples capela de adobe, bem pequena e que não permitia grande reformulação. Daí o anseio eclesiástico de se construir uma Igreja Matriz para Catalão.
A partir de 1881, o cônego Luiz Antônio da Costa se ocupou, com ajuda da comunidade, em edificar uma igreja maior naquele largo. O esforço foi reconhecido pelo governo provincial que, além de nomear uma comissão para gerir os trabalhos, forneceu recursos para término da obra.
O propósito inicial era a edificação de uma igreja em homenagem a N.S. do Rosário, conforme definiu a comissão formada pelo vigário Luiz Antônio da Costa, João de Cerqueira Netto, Francisco Victor Rodrigues e José Maria da Silva Ayres.
A partir de 1882, com apoio do governo, as obras de edificação da futura Igreja N.S. do Rosário foram aceleradas.
No entanto, a destinação da igreja foi completamente alterada. É que, durante a construção ocorreu uma permuta: a velha capela existente na (atual) Praça Getúlio Vargas foi doada à Irmandade do Rosário que, na época, completava cinco anos de existência. Com isso, as obras de construção no Largo foram direcionadas para edificação de uma Igreja Matriz para Catalão, em homenagem a N.S. Mãe de Deus.
Com o tempo, meio século depois, a Igreja do Largo da Matriz ficou em estado lastimável, carecendo de total reestruturação. Foi quando entrou em cena, o padre Agostinho Camarzana, na década de 1930.
Sua obra foi uma construção imponente, bem delineada na arquitetura e que se tornou cartão-postal de Catalão: a Velha Matriz.
(Luís Estevam)