KATOETÉ! A BELEZA, A FORÇA E A RESILIÊNCIA DO POVO PARAKANÃ
No início deste ano, a Tucum teve o privilégio de participar da I Assembleia Geral do Povo Parakanã, que aconteceu na Terra Indígena Apyterewa, região do médio Rio Xingu, Pará. Fomos convidados pela TNC – The Nature Conservacy por sermos uma empresa parceria dos povos indígenas na difusão e comercialização de sua arte. Com o apoio da TNC e Funai, os Parakanã estão desenvolvendo seu Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) 1 , e foi a partir das discussões sobre este Plano, que a comunidade elegeu o artesanato como ação prioritária, no eixo Manejo dos Recursos Naturais.
FOTO: Rumo à T.I. Parakanã, rio Xingu
A Tucum aceitou o convite e na viagem à T.I. Apyterewa pôde demonstrar e aplicar um pouco da nossa metodologia de trabalho, que consiste em conjugar serviço e comércio socioambiental de maneira que as duas atividades se afetem positivamente. O fato de representar uma empresa de comércio do ramo do artesanato indígena foi muito positiva para que os Parakanã compreendessem um pouco do mercado do artesanato e suas nuances. Por sua vez a atividade de compra de uma amostra do artesanato Parakanã foi usada como forma de contribuir para um diagnóstico local e participativo sobre as potencialidades e os desafios da atividade, dos produtos e da estrutura atual da cadeia produtiva do artesanato. Pudemos aplicar um piloto da tecnologia social desenvolvida pela Tucum, que consiste na organização social da comunidade para o trabalho em cooperação e na formação de gestor(es) indígenas atuantes.
FOTO: Aweté Parakanã traduzindo a apresentação da Tucum.
Quem são os Parakanã?
Os Parakanã são indígenas falantes de língua tupi-guarani e desde uma cisão interna ocorrida no final do século XIX, dividem-se entre Orientais, habitantes da T.I. Parakanã, na bacia do rio Tocantins e Ocidentais, que vivem na T.I. Apyterewa, na bacia do rio Xingu. Autodenominados Awaeté, que quer dizer em tupi “gente verdadeira”, os Parakanã que habitam o rio Xingu trazem muitos aspectos de uma história de contato relativamente recente com os Toria (não-indígenas ou “brancos”), realizado em meados dos anos 70, em sua organização social.
FOTO: Dança tradicional Parakanã.
Cinco aldeias fazem parte da T.I. Apyterewa: Apyterewa, Xingu, Paranopiona, Xahy-Tata e Kwarahya Pya ou Raio de Sol. A Terra Indígena Parakanã está sob forte impacto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e de todos os problemas que vieram junto com ela. Os Parakanã vem se organizando social e politicamente para proteger seus territórios, gerir os recursos naturais de suas terras de maneira sustentável e valorizar suas tradições.
O artesanato Parakanã
A produção do artesanato Parakanã é uma atividade coletiva, onde os homens colaboram com a coleta da matéria-prima e seu beneficiamento, enquanto as mulheres tramam as fibras de tucum, sementes nativas, linhas de algodão, palhas e cipós que ganham a forma de cestos (Yrynokoa), redes (Iapoa), acessórios como bolsas (Yrynokoa), colares (Xorepevara) e pulseiras (Mapypewara), além de roupas (Wapironga), tipoias (Tapaxa), faixas de cabeça (Akywawa) e vassouras (Ytyapeiwa).
FOTO: Artesã Parakanã com tipoia, cesto e colares feitos por ela.
Na Internet quase não há fotos e informações disponíveis sobre a arte e o artesanato do Povo Parakanã, o que aumentou nosso sentimento de responsabilidade de mostrar essa beleza ao mundo, promover e valorizar a arte e a cultura deste povo.
A cestaria Parakanã se destaca pelo design rústico e contemporâneo, onde novos elementos, como linhas de algodão coloridas, são incorporados aos trançados tradicionais feitos com as fibras de tucum, cipó titica e outras fibras e palhas da região, mostrando como é vasta, inventiva e viva a cultura material deste povo.
FOTO: Artesã e seu cesto feito de cipó titica e fibra de tucum.
Entre os objetos de uso ritual está o opetymo, um grande cigarro onde o fumo é enrolado com a entrecasca do tauari (petyma’ywa =”árvore do fumo”). O opetymo é utilizado durante a Festa do Cigarro, que dura de três a quatro dias. Opetymo, segundo o antropólogo Carlos Fausto, significa provavelmente “comer tabaco” e a ingestão da fumaça é parte central do ritual, que envolve cantos e danças, e possui caráter xamânico e guerreiro ao mesmo tempo, invocando uma consciência alterada, de “sonhador”.
FOTO: Cigarro artesanal Parakanã.
Foi uma semana de muita troca e aprendizado para nós da Tucum, estamos muito contentes com esta nova parceria que se inicia e honrados em ter o povo Parakanã na nossa Rede! Os produtos que trouxemos desta nossa visita e uma segunda encomenda estão disponíveis em nossas lojas física e online, e você pode conhecer um pouco mais da arte desta etnia na Tucum online.
FOTO: Artesãs Parakanã, das cinco aldeias da T.I. Apyterewea e suas criações. (Foto: Isa Guedes)
1. PGTA é uma importante ferramenta, de caráter dinâmico, que visa à valorização do patrimônio material e imaterial indígena, à recuperação, à conservação e ao uso sustentável dos recursos naturais, assegurando a melhoria da qualidade de vida e as condições plenas de reprodução física e cultural das atuais e futuras gerações indígenas. Saiba mais em http://www.funai.gov.br/arquivos/conteudo/cggam/pdf/Cartilha_PGTA.pdf
* Saiba mais sobre os Parakanã e outras etnias através do site do ISA – Instituto Socioambiental.
** katoeté é uma saudação tupi, muito usada entre os Parakanã. Pode ser usada como cumprimento, saudação ou recepção de um grupo ou pessoa.
FONTE: http://site.tucumbrasil.com/katoete-a-beleza-a-forca-e-a-resiliencia-do-povo-parakana/