Grupo Uccelli encerra temporada do projeto “Montserrat nos Trilhos de Goiás” em Catalão – Por Cléber Borges
Depois de passar por cinco cidades goianas (Silvânia, Vianópolis, Pires do Rio, Urutai e Goiandira), o Grupo Uccelli, de Goiânia, fez a última apresentação do projeto “Montserrat nos Trilhos de Goiás” em Catalão, mais precisamente na antiga estação ferroviária, onde atualmente funciona o Museu Municipal Cornélio Ramos. Lá, paralelamente, nos dias 30/06 e 01/07 foi realizado o II Circuito de Artes, da Fundação Cultural Maria das Dores Campos. No final do espetáculo, mostrando-se satisfeita com a grand finale, a professora de música da UFG e coordenadora do Grupo, Cristiana Carvalho, fez um balanço da temporada. Ela começou dizendo que teve apoio irrestrito da Fundação e grande receptividade do público catalano. “A presidente da Fundação, professora Patrícia, foi muito feliz em realizar esse evento nas dependências da antiga estação. No mesmo local, o público pôde ver o acervo do museu, exposição de livros, artesanato, artes plásticas e assistir apresentações de música popular, regional e a nossa, a medieval”, disse. Abaixo, o restante da entrevista com a coordenadora.
F.C.M.D.C – Professora, há quanto tempo o Grupo foi formado e por quem ele é composto?
Cristiana – Ele foi formado há três anos. É formado pelo professor de percussão do IF Goiano, Ronan Gil; pela Doutora em Cravo e Espineta e professora do Instituto Estadual de Educação em Artes Gustav Ritter, Beatriz Pavan; professora de projetos de extensão da UFG, Ângela Samara; eu, Cristiana Carvalho, que sou flautista e professora de música da UFG; e Jeferson Leite, violinista e tocador de rabeca, com vasta experiência tanto em música erudita como a popular.
F.C.M.D.C – O Grupo é goiano, por que ele tem esse nome (Uccelli) em italiano?
Cristiana – Em italiano, Uccelli significa pássaro. O nome tem uma relação direta com as partituras. Nas partituras da Idade Média existem vários pássaros desenhados nelas. Então, achei que este seria um bom nome para o grupo.
F.C.M.D.C – Qual a relação que há entre o nome do projeto (Montserrat nos Trilhos de Goiás) com a música medieval e a estrada de ferro do nosso Estado, que foi construída no início do século XX?
Cristiana – Montserrat é uma região no Sul da Espanha, onde existe um mosteiro com este nome. Lá, foi encontrada uma virgem. Existe uma peregrinação desde a Idade Média, assim como no Caminho de San Tiago, também na Espanha. Nesse local, foi encontrado também um livro vermelho chamado hoje de Livro Vermelho de Montserrat. O projeto leva esse nome porque nosso repertório é sacro daquela região.
F.C.M.D.C – E…
Cristiana – Os Trilhos de Goiás foi um resgate da memória, do que a gente tem de antigo no Estado. As pessoas pouco vão a museus, não conhecem a nossa própria história. Então, resolvemos fazer um paralelo entre a História da Idade Média e o que a gente tem de registro hoje no Brasil, no Centro-Oeste. Dai a razão de as apresentações do grupo serem feitas somente nas estações ferroviárias que foram transformadas em museus.
F.C.M.D.C – Qual a avaliação do trabalho, da temporada de vocês, patrocinado pelo Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás e, aqui em Catalão, pela Fundação Maria das Dores Campos?
Cristiana – Posso dizer que foi ótimo. O grupo amadureceu com o repertório, com a expectativa em relação ao público. Foi gratificante ver as pessoas reconhecerem a nossa sonoridade, que se toca tradicionalmente em concertos, em espaços mais fechados, como em teatros, por exemplo. Percebemos que em espaços abertos, as pessoas também se conectam a esse repertório.
F.C.M.D.C – O apoio do Estado e do município foi/está sendo importante para vocês?
Cristiana – A Fundação Cultural Maria das Dores Campos nos deu total apoio aqui em Catalão. O Fundo de Cultura, por sua vez, foi fundamental. Sem ele, a gente não conseguiria realizar este nosso trabalho que envolve equipe de som, de produção por trás. Trabalhamos com música medieval, mas, ao mesmo tempo, com equipamentos de última geração. Somos músicos do século XXI revivendo a Idade Média.
F.C.M.D.C – Como é se apresentar ao ar livre?
Cristiana – Nossas cidades são barulhentas. Enquanto tocamos, carros passam, celulares tocam. Não temos o ambiente sonoro que existia naquela época. As pessoas não têm o ouvido daquela época. Então, por isso, a gente busca equipamentos de alta qualidade para realçar os instrumentos de alta precisão para que eles possam alcançar os ouvidos das pessoas do século XXI.
F.C.M.D.C – É um desafio constante?
Cristiana – Sim. Hoje mesmo um trem passou pela estação exatamente no momento em que estávamos nos apresentando. Mas, tudo bem, esse trem veio para marcar o encerramento de nossas apresentações.
F.C.M.D.C – Atrapalhou?
Cristiana – As salas de concertos hoje são modernas, são pensadas para espetáculos grandes. Então, para nós que temos apenas cinco músicos e tocamos muita música sacra, o espaço ideal de acústica seriam as igrejas.
F.C.M.D.C – O público, que é bastante heterogêneo, assimila bem os espetáculos desta natureza?
Cristiana – A gente tem percebido que sim. Como nossas músicas são muito diferentes do que as pessoas estão acostumadas, quando elas as ouvem, percebem que não é tão estranha, não é tão longe assim da realidade delas. Afinal, música é uma linguagem universal, independente do tempo e do espaço em que são apresentadas.
F.C.M.D.C – Onde vocês se apresentam normalmente?
Cristiana – Em espaços de cultura como o Martim Cerere, do Centro Cultural da UFG, de Goiânia. Mas a gente já se apresentou também no Festival FICA (Festival Internacional de Cinema e Vídeos Ambientais), da Cidade de Goiás.
F.C.M.D.C – Encerrando o projeto Montserrat, qual será o novo trabalho de vocês?
Cristiana – Nada definido ainda, mas, no segundo semestre, devemos nos apresentar no Festival Canto da Primavera, de Pirenópolis.
Escrito por: Cleber Borges Rabelo
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