Crônica Moderna no Jornal Mundo Melhor 1966
Eram nove horas da madrugada. O meu relógio de pulso acabava de bater a última badalada de uma hora. Seu suave tanger fez um barulhão tremendo, acordando a todos que ainda não dormiam. Sentada à máquina de escrever, peguei a caneta e escrevi a lápis a estória de um jovem ancião, que sentado num banco de pedra feito de Madeira, calado dizia constantemente: Antes morrer do que perder a vida.
Estou realmente inspirada nesta tarde fria de janeiro. Grande é a minha pressa de acabar êste plágio de minha autoria, pois faltam apenas uma semana para o Dia das Mães.
Não conseguindo escrever nada que prestasse, resolvi sair. Peguei o meu automóvel e sai andando pela calçada. Mas, eis que o Dr. TV, que vinha pedalando uma lambreta pelo meio da rua, me atropelou. Caí de costas no chão. Mas felizmente só arranhei o nariz. Tranquilamente desesperada continuei o meu caminho pensando: E agora, com o nariz arranhado como é que irei tocar harmônio no baile das professoras. Mas continuei o caminho e ao passar pelo bairro “Marca Tempo” cheguei à casa da Dalva Badico em cuja frente havia uma roseira carregada de jasmins. Em baixo de uma goiabeira carregada de beterraba, Marisa Duarte, ensaiava uma poesia para dançar no Dia dos Pais.
Atravessando o Pirapitinga num transatlântico cheguei ao bairro do Pio, onde na casa da Zelma Mendes, me detive apreciando um azulado lago de águas verdes, que, por sinal estava sêco. Á sombra de um pé de alface, carregado de mamão, Sheila de Melo estudava piano.
Despedindo da Ângela e da Liza, deixei então o bairro da “Grota”. Continuei o meu caminho. Ouvi um suave gorgeio de ave. Olhei para traz e vi a Zarinha com uma gaiola na mão, na qual conduzia um elefante.
Ao passar pela livraria de Vera Rute, comprei quatro bananas. Depois peguei uma faca e com um canivete descasquei-as, sendo duas para a Beatriz, duas para a Aldanice e duas para mim.
Nêsse tempo tomei uma lancha para a lagoa Paquetá. Lá encontrei a Mágda da Pimenta e perguntei-lhe: – “Você agora mora aqui no JK?”
– “Não, moro em Goiandira, pertinho do Morro de São João, onde também mora a Irene Amado.”
Nisso encontrei um homem agonizante. Dei-lhe um remédio que trazia na pasta de dentifrício. Êle foi melhorando, melhorando e morreu.
Já fadigada, despedi-me da Marina Gomides e resolvi continuar a minha viagem, voltando para casa. Lá chegando, encontrei minha irmã que estava nervosa, mas brincava calmamente com meu irmão caçula, dois anos mais velho que eu. Falei- lhe então: – Você brincando com um homem dêste tamanho? “E ela respondeu-me: “- Fale mais alto, que estou sem óculos.
FONTE: Jornal “Mundo Melhor” – Órgão Cultural Recreativo do Colégio Nossa Senhora Mãe de Deus. “O MUNDO SERÁ MELHOR QUANDO FORMOS MELHORES” , Ano 2, Catalão, GO, Junho de 1966.
Pres. – Alda Vaz Mesquita
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