Crônica do Ano Novo

Faltava dez para meia noite. Os fogos de artifício já brilhavam no céu há algumas horas. Pobres gatos e cachorros, idosos e gestantes: os sustos, quando sozinhos, são mais horripilantes. Pobres dos solitários, que não tiveram com quem compartilhar tamanha grandiosidade de uma virada de ano.

Li, qualquer dia desses, em alguma das minhas redes sociais, que o Ano Novo é isso: dar uma nova chance. Chance de perdoar, de fazer melhor, de fazer mais, dar mais, amar mais, de parar com todos os “e se” que soltamos para tantas coisas e aproveitar o que quer que venha a acontecer. Mas o que é isso, se não uma segunda-feira?

Nós sempre estamos começando outra vez, afinal. Uma dieta, um exercício, um livro, uma receita. E experimentando, experimentando, melhorando, aguçando, degustando, salgando ou adoçando alguma coisa. E na quarta-feira? Tudo igual, tudo a mesma coisa do último domingo em que decidimos começar diferente no dia seguinte.

E, de segundas em segundas, todos os novos trezentos e sessenta e cinco dias de um Ano Novo, começamos e terminamos ciclos e ciclos. Fases e fases. E de imprevistos em imprevistos nós continuamos vivendo: ultrapassando, vencendo, perdendo, mas sempre atingindo [objetivos] e enfrentando [obstáculos].

Talvez, muito talvez, o primeiro dia de um ano impulsione mais facilmente. Talvez ele tenha mais força que o primeiro dia de uma semana, ou talvez seja o “primeiro” que tenha esse poder. “Começo” e “primeiro” acabam se complementando e modificando nosso raso sistema operacional contingente.

Meia-noite. Barulhento, afetuoso, cheio de abraços e desejos de… estamos em lua minguante, banimento, certo: desejos de que sejam afastados e banidos todos os sentimentos ruins, toda a maldade, toda a inveja, o desemprego, a falta de grana, os amores malsucedidos. Muitos abraços, muitos “Feliz Ano Novo!”, mais cerveja, mais funk. Pagode. Sertanejo. Risadas, bocejos, apertos de mão, cama. Mais um Ano Novo, mais uma prospecção de vida nova, mais uma noite de pouco sono. Ainda assim, tudo maravilhoso. Um amor no peito e um bem ao lado. E todos os sucessos de um ano incrível que acabou ficando para trás também.

Pode ser, e essa é a minha esperança, que percebamos que, assim como em cada dia em que acordamos vivos e com saúde, este dia não passe de mais uma oportunidade divina para recomeçarmos, continuarmos ou, porque não, finalizarmos ciclos. Descobrir coisas novas. Acertar mais, errar outras vezes, mas sempre arriscar. Porque o significado do “Novo” é esse: ser, fazer, aceitar, começar ou terminar, tudo diferente.

 

Texto: Estela Fiorin

Fotos: Reprodução Internet

 

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