Christiano Victor Rodrigues: O Legado de um Homem Visionário

No coração da história de Catalão, entre nomes que ajudaram a construir a identidade da cidade, um brilha com especial intensidade: Christiano Victor Rodrigues. Farmacêutico, intelectual, político e homem de grande espírito público, ele atravessou o tempo como um dos mais notáveis personagens catalanos.

Sua inteligência, sua dedicação ao bem-estar da população e seu compromisso com o desenvolvimento da cidade fizeram dele uma figura inesquecível. Hoje, sua memória está eternizada não apenas na história oral, mas também em uma das principais avenidas da cidade, a Avenida Christiano Victor.

Raízes de uma Família Extraordinária

Christiano nasceu em um lar numeroso e de grande influência. Seu pai, Francisco Victor Rodrigues, conhecido como Chico Manco, e sua mãe, Felicidade da Silveira Rodrigues, chamada carinhosamente de Dadinha, formavam um casal respeitado, que soube imprimir nos filhos um forte senso de responsabilidade e honra. O casal teve treze filhos: Josias Leopoldo, Maria Leopoldina, Arminda I, Alceu, Virgílio, Arminda, Leopoldo, Benvinda, Benildes, Zenaida, Marietta, Izabel e Gastão Victor Rodrigues. No entanto, a família enfrentou perdas precoces e dolorosas, pois Maria Leopoldina, Arminda I, Virgílio, Marietta e Izabel faleceram ainda na infância.

Foi Chico Manco quem fundou a Pharmacia Felicidade, um dos marcos da cidade. Seu nascimento, em 1858, antecedeu em um ano a elevação de Catalão à categoria de cidade, que ocorreu em 1859. Desde sua inauguração, a farmácia se tornou um pilar essencial para a comunidade, oferecendo remédios, tratamentos e cuidados em uma época em que os recursos médicos eram escassos. O estabelecimento, que passou para as mãos de Christiano, permanece ativo até os dias de hoje, um testemunho vivo de sua relevância e longevidade.

O Homem de Inteligência Brilhante

Desde jovem, Christiano demonstrou ser uma mente privilegiada. Sua capacidade de aprender e compreender as mais diversas áreas do conhecimento impressionava aqueles que o conheciam. Foi enviado para estudar Agrimensura na Politécnica do Rio de Janeiro, um prestigiado centro de formação da época. No entanto, por razões alheias à sua vontade, não pôde concluir o curso. Isso, contudo, não o impediu de se destacar.

Apesar de não possuir um diploma formal em Farmácia, tornou-se um dos mais respeitados farmacêuticos do estado. Em uma época em que Catalão carecia de médicos formados, foi ele quem exerceu a função de cuidar da população, aplicando tratamentos com grande precisão e segurança. Seu conhecimento sobre fórmulas medicinais, ervas e tratamentos curativos era vasto, e seu nome passou a ser sinônimo de confiança e competência.

Uma Mente Literária Inexplorada

Os relatos sobre a inteligência de Christiano não se restringem à sua atuação na farmácia. Dizem que ele também possuía um talento literário notável. Escreveu diversas obras, mas, por razões desconhecidas, jamais as publicou ou compartilhou. Se tivessem chegado ao público, certamente seriam preciosidades da literatura goiana e um valioso patrimônio da memória catalã.

Um Homem de Família

Além de suas realizações profissionais e intelectuais, Christiano construiu uma sólida vida familiar ao lado de sua esposa, Amazilia. O casal teve oito filhos, entre eles três mulheres que seguiram a vida religiosa: Júlia (que adotou o nome de Madre Maria de Jesus Victor Rodrigues), Victorita (Madre Lúcia Victor Rodrigues) e Madre Florência. Seu filho Francisco, conhecido como Dr. Chiquinho, tornou-se médico, dando continuidade ao compromisso da família com a saúde e o bem-estar da comunidade. Seus outros filhos foram Aparecida, Maria José, Lourdes e José, compondo um núcleo familiar que perpetuou o legado de Christiano.

A Casa da História

Um detalhe curioso sobre a trajetória de Christiano é a residência onde viveu. Antes de pertencer a ele, a casa havia sido moradia do renomado escritor Bernardo Guimarães, autor de A Escrava Isaura. O poeta Ricardo Paranhos, em seu livro Obras Completas de Ricardo Paranhos, descreveu como Christiano reformou o imóvel, transformando-o em uma das vivendas mais confortáveis da cidade.

Seu sucesso não veio apenas do trabalho árduo e da inteligência, mas também de um golpe de sorte: Christiano ganhou cem contos de réis na loteria, um valor impressionante para a época. Essa quantia consolidou ainda mais sua posição de prestígio e demonstrou que, de fato, a casa havia deixado para trás qualquer vestígio de azar que pudesse ter tido no passado.

O Líder Político e o Administrador Público

A atuação de Christiano Victor Rodrigues ultrapassou os limites da farmácia e da literatura. Ele também se envolveu ativamente na vida política de Catalão, ocupando cargos de grande relevância.

Em 27 de maio de 1890, participou da comissão nomeada para a medição de terrenos ocupados por particulares, ao lado de José Álvares da Silveira Machado. Essa tarefa era essencial para organizar o crescimento da cidade e evitar conflitos fundiários.

Em 1897, assumiu um cargo no Conselho Municipal de Catalão, integrando um seleto grupo de líderes ao lado de Coronel Antônio da Silva Paranhos, Tenente-Coronel João de Cerqueira Netto, Capitão Teófilo de Barros, Major João Gomes Figueira, Manoel Jerônimo de Sant’Anna e Tenente-Coronel Joaquim Felipe Estrela.

Sua influência política se fortaleceu ainda mais no início do século XX. Em 1912, foi conselheiro municipal na gestão de João da Veiga Jardim. Já em 1916, tornou-se intendente municipal (equivalente ao cargo de prefeito), sucedendo o Coronel Jocelyn Gomes Pires. Durante seu mandato, trabalhou pelo crescimento da cidade e pela melhoria dos serviços públicos.

Seu compromisso com a comunidade também se manifestou na área religiosa. Em 23 de janeiro de 1919, participou da comissão que elaborou um manifesto solicitando apoio da população para a construção de uma nova matriz.

O Legado Imortal de Christiano Victor Rodrigues

A história de Christiano Victor Rodrigues é a história de um homem à frente de seu tempo. Com seu talento, sua dedicação e sua visão progressista, marcou profundamente a história de Catalão. Foi major, coronel e  seu nome segue vivo, não apenas na memória dos catalanos, mas também na Avenida Christiano Victor, uma das mais importantes da cidade, que presta homenagem a essa grande personalidade.

E, como prova viva de sua trajetória, a Farmácia Felicidade, fundada em 1858 por seu pai, ainda funciona na Avenida 20 de Agosto, mantendo o nome que há mais de um século simboliza saúde, tradição e compromisso com a população.

Seja na farmácia que ajudou a erguer, na administração pública que fortaleceu ou nos livros que nunca publicou, Christiano Victor Rodrigues deixou um legado inestimável. Ele foi mais do que um farmacêutico, político ou literato. Foi um verdadeiro pilar da história de Catalão, um nome que jamais será esquecido.

FOTO: ATA assinada por Christiano Victor Rodrigues

 

FOTO: Christiano Victor Rodrigues

Texto: Maysa Abrão 

Fonte de pesquisa: “Memorial do Catalão” de Antônio Miguel Jorge Chaud”.