Benjamim Filho: O Artista Que Pintou a Alma de Catalão
No amanhecer de 19 de novembro de 2017, Catalão despertou mais cinza, mais vazia, como se as cores vibrantes que davam vida à cidade tivessem se apagado. Naquela madrugada, aos 55 anos, partia Benjamim Filho, um homem que não era apenas um artista, mas um verdadeiro arquiteto da cultura, um mestre das formas e das emoções, um visionário que transformava o ordinário em extraordinário.
Nascido em 11 de dezembro de 1961, Benjamim veio ao mundo com a alma de um criador. Desde pequeno, demonstrava um olhar atento para os detalhes, uma sensibilidade que mais tarde se traduziria em suas obras. Sua vocação para a arte foi despertada de maneira inusitada, ao assistir à novela Casarão, da Rede Globo. Viu ali, nos traços e na sensibilidade do personagem interpretado por Paulo Gracindo, a centelha que iluminaria seu destino. Desde então, não houve um só dia em que não expressasse sua essência através de pincéis, cores e texturas.
Sem recursos, começou sua jornada artística improvisando—rabiscando em cadernos, explorando papelão e, mais tarde, mergulhando de cabeça na pintura em tela. O talento que brotava de suas mãos logo foi reconhecido, e um pequeno gesto de incentivo mudou tudo: um senhor, ao perceber seu dom, presenteou-o com um kit de pintura. E foi assim que Benjamim Filho se tornou um dos maiores nomes da arte de Catalão.
Mas ele não era apenas um pintor. Era um restaurador brilhante, um decorador de extremo bom gosto, um artista plástico de renome nacional. Suas obras não conheciam fronteiras, atravessaram oceanos e encontraram espaço em países como Alemanha, China, Japão, Itália e Portugal. Lá, em terras estrangeiras, sua arte foi reconhecida e celebrada, conquistando prêmios e levando o nome de Catalão ao mundo.
Sua paixão pela cultura era inabalável. Não se contentou em apenas criar—ele queria ensinar, transformar, compartilhar. Foi professor e fundador da antiga FUMBEM, que mais tarde se tornaria o Centro de Convivência do Pequeno Aprendiz (CCPA). Mas seu maior legado talvez tenha sido a criação da Fundação Cultural Maria das Dores Campos, considerada a Casa da Cultura de Catalão. Lá, Benjamim não apenas pintava; ele inspirava, moldava futuros, despertava talentos adormecidos.
E se sua arte vivia nos quadros, também se manifestava nas ruas. Ele foi o responsável por decorar Catalão em muitas festas de fim de ano, enchendo a cidade de brilho, encanto e magia. Cada detalhe, cada enfeite carregava sua assinatura, seu olhar refinado, sua capacidade única de transformar simples ornamentos em verdadeiras obras de arte.
Mas, como toda grande história, a de Benjamim também teve suas sombras. O câncer tentou silenciar suas cores, mas ele, guerreiro incansável, lutou bravamente. Foi atendido pelo Hospital de Câncer de Barretos, passou por um tratamento difícil e surpreendeu a todos com sua recuperação admirável. Durante um tempo, parecia que sua força e sua arte venceriam até mesmo a doença. Mas o destino, impiedoso, decidiu que sua missão entre nós estava cumprida.
Naquele domingo de novembro, Catalão perdeu mais do que um artista. Perdeu um de seus maiores ícones culturais, um homem que dedicou sua vida a pintar não apenas telas, mas sonhos, esperanças e futuros. Seu velório aconteceu na Casa de Velório Ozanam, onde amigos, alunos, admiradores e familiares se reuniram para um último adeus. Ao final da tarde, seu corpo foi sepultado no Cemitério Jardim São Pedro, mas sua alma permaneceu viva, eternizada em cada obra, em cada gesto, em cada coração que ele tocou.
Benjamim Filho não se foi. Ele vive em cada pincelada de cor que ainda brilha nas ruas de Catalão, em cada aluno que despertou para a arte, em cada tela que imortalizou sua genialidade. Seu nome ecoará para sempre na história desta cidade, como um farol que guiou a cultura e deixou um legado impossível de apagar.
Descansa, mestre. As cores do seu talento jamais desbotarão.