Aldeia Multiétnica aberta a professores e alunos
Disponibilizamos nosso espaço para que os professores possam promover uma reestruturação educacional com os alunos, propiciando a eles o conhecimento de aspectos reais da população indígena
Na Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, ainda estamos inebriados pela experiência de uma semana com os Fulni-ô, que protagonizaram um curso-vivência na Aldeia Multiétnica de 16 a 23 de abril. Além dos guerreiros de Águas Belas (PE), participaram lideranças das etnias Krahô, Kayapó, Yawalapiti e Kamaiurá, grandes parceiros desde o início do evento, que este ano completará 10 anos de 15 a 22 de julho. Nossa intenção com a Aldeia é proporcionar um espaço de integração cultural que promova a interatividade entre diferentes grupos indígenas e o público em geral. O que notamos em uma década é que ainda falta muito entendimento sobre a cultura indígena. Uma das maiores dificuldades: o sistema de ensino brasileiro não informa nem o básico sobre a grandiosidade do universo dos povos originários do Brasil. A maioria da população brasileira tem acesso a um modelo educacional europeu limitador, que gera ignorância sobre a cultura tradicional brasileira e consequências perturbadoras em relação à conscientização acerca da importância e da realidade desses povos.
Nossa preocupação no último 19 de abril, quando é comemorado o Dia do Índio no Brasil, foi convidar escolas para visitarem a Aldeia Multiétnica por um dia. Recebemos cerca de 100 alunos de Brasília, da vila de São Jorge e de Alto Paraíso de Goiás, junto a professores e pais. Ao menos com eles, desmistificamos a data e a consciência sobre o que é ser índio. Quantos de nós têm uma lembrança de infância, em que nos pintamos, colocamos um cocar e fazemos o típico som ““úúúú” ecoar entre a ponta dos dedos e a boca? Uma referência absurda que é propagada na maioria das escolas até hoje, junto a livros de história ultrapassados, que mostram imagens referentes a 1500.
Muitos visitantes atravessam um portal de conhecimento ao entrar pelos portões da Aldeia Multiétnica. Ali, o primeiro susto é descobrir que índio não é um só. São cerca de 230 etnias resistentes no Brasil. Outro é notar como elas são diferentes entre si: existem 180 idiomas falados, rituais, pinturas, artesanato, crenças, modos de organização e tradições específicos. Mais uma surpresa é saber que é possível se comunicar com os indígenas como com qualquer outra pessoa e que eles também usam celular, estão cada dia mais conectados nas redes sociais, andam vestidos, ocupam cadeiras nas universidades e têm voz ativa na sociedade, sendo grandes guerreiros não só nas matas, mas também na política, na luta por seus direitos. Eles estão inseridos na sociedade contemporânea e mantêm a cultura e os costumes ancestrais em sua essência.
A Lei 11.645/08 estabelece a obrigatoriedade do estudo da história e cultura indígena no currículo das escolas de ensino fundamental e médio, públicos e privados. A partir da experiência bem-sucedida durante a última vivência na Aldeia Multiétnica, disponibilizamos nosso espaço para que os professores possam promover uma reestruturação educacional com os alunos, propiciando a eles o conhecimento de aspectos reais da população indígena e os conhecimentos diversos que os povos originários têm a transmitir a partir da convivência.
Como julho, quando será realizada a X Aldeia Multiétnica entre os dias 15 e 22, é mês de férias, propomos a partir de agora a visita de grupos escolares ao espaço. Converse com seus alunos e analise a possibilidade de um encontro aos que estiverem na região no período. Entre em contato com a equipe da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge por meio do e-mail [email protected] e conversaremos sobre as melhores possibilidades para garantir essa experiência intercultural tão rica e importante.
Antes disso, a Habitat Socioambiental, especializada em projetos sociais, ambientais, educativos e econômicos junto a diversos povos indígenas e grande parceira da Aldeia Multiétnica vai oferecer o curso “Introdução, Planejamento e Práticas sobre a Temática Indígena nas Escolas” no dia 7 de junho, em Brasília.
O curso é destinado a professores, universitários, coordenadores escolares e demais interessados no tema e visa preencher uma lacuna na falta de capacitação de educadores para o ensino da temática indígena em sala de aula. A meta é disponibilizar informações e práticas etnopedagógicas que ofereçam uma descrição equitativa, exata e instrutiva das sociedades e culturas dos povos indígenas do Brasil, contribuindo para a redução de preconceitos e da vitimização desses povos. Mais informações sobre inscrições em https://www.facebook.com/events/1542898899339722/.
TEXTO: Ana Ferrareze
Em 05/05/2016, 01:32
FOTO: Alunos durante o curso-vivência com o povo indígena Fulni-ô. Foto: Delcio Gonçalves