Fundação Clóvis Salgado inaugura exposições do 3º Prêmio Décio Noviello de Fotografia

A Fundação Clóvis Salgado inaugura duas novas exposições do 3º Prêmio Décio Noviello de Fotografia, que ocuparão a CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais até 20 de maio de 2023. Foram contemplados os artistas Julia Baumfeld (Belo Horizonte – MG), com a exposição “Entre cantos e lamentos”, para o Espaço 1, e Bruno Barreto (Dom Pedrito – RS), com a exposição “5 casas”, no Espaço 2. A nova edição do Prêmio Décio Noviello de Fotografia busca refletir, a partir da potência da fotografia, sobre a força da memória e da linguagem imagética, propondo reflexões acerca da história e suas políticas de preservação.

Em “Entre cantos e Lamentos”, Julia Baumfeld nos convida a uma viagem pela região do Oriente Médio, parte de suas pesquisas e reflexões acerca de sua ascendência judaica. A artista tenciona e reflete, em suas imagens em 35mm, a geografia, história e berço das três grandes religiões patriarcais abraamicas, traçando um caminho que perpassa fronteiras complexas da região. Já em “5 casas”, Bruno Barreto convida a uma imersão no universo da memória, abraçando sua própria história familiar e a de sua cidade, Dom Pedrito. O projeto retrata a busca pelas vivências de infância do artista, entrelaçada pelo processo de luto da perda de seus pais.

Para o presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis, a realização desse Prêmio, com abrangência nacional, abre as portas do Palácio das Artes às mais variadas propostas artísticas. “O Prêmio Décio Noviello de Artes Visuais é reconhecido por sua diversidade. A cada edição, artistas de Minas e de outros estados ocupam nossas galerias com as mais variadas propostas da contemporaneidade. O fomento a essa identidade diversa é uma importante diretriz, a qual temos nos atentando sempre”, destaca.

Entre cantos e Lamentos

A exposição “Entre cantos e Lamentos” consiste em uma série de fotografias realizadas pela artista na região do Oriente Médio em 2019. O trabalho apresentado na exposição é fruto dessa viagem, que aconteceu inicialmente por conta de sua ascendência judaica, por parte de seu avô materno, de quem herdou o sobrenome “Baumfeld” (que significa “campo de árvore”). “Apesar de eu não ter ligação com a cultura judaica e me considerar ateia, fui até aquelas terras conhecidas por conflitos complexos e símbolos sagrados e me deparei com a geografia, história e berço das três grandes religiões patriarcais abraamicas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Elas são as primeiras a acreditar em um único deus”, explica a artista.

Ao longo do percurso, Baumfeld traçou um caminho que perpassa fronteiras complexas da região, registrando com fotografia em película 35mm seu deslocamento e encontro com culturas e crenças tão diversas. “A viagem, que realizei em solitude, perpassou locais em Israel, Palestina, Cisjordânia, e também comportou uma travessia do deserto do Sinai por terra, até chegar ao Egito. Realizando o caminho oposto à peregrinação do povo Judeu rumo a terra prometida, fui ao encontro de Cairo e das Pirâmidas de Gizé, me deslumbrando com os rastros e monumentos da grande civilização do Egito Antigo, a qual acreditava em diversos deuses e deusas”, conta a artista. Ao longo da jornada, a fotógrafa voltou seu olhar, pesquisa e registro fotográfico para as mulheres de diferentes culturas que perpassaram seu caminho. “Nessa experiência de troca com elas, sem o uso das palavras, me questionei a todo tempo sobre o papel das mulheres nas narrativas da sociedade patriarcal”, reflete.

Segundo Baumfeld, o Prêmio Décio Noviello traz agora a possibilidade de materializar esse trabalho. A expografia, realizada em conjunto com a arquiteta Ivie Zappellini, busca trazer a experiência de deslocamento entre as regiões e suas fronteiras, ao mesmo tempo que aproxima de forma afetiva a trajetória, encontros e paisagens de locais de grande valor simbólico. “A exposição é uma via do percurso da minha pesquisa como artista de múltiplas linguagens, na qual transito por diversas formas de expressões e investigo questões de intimidade em mediação com o mundo, pesquisando memória íntima e coletiva em arquivos íntimos. É uma alegria apresentar esse trabalho na Galeria CâmeraSete, que além de ter uma ótima localização central, que permite acesso ao fluxo e diversidade de pessoas no centro da cidade, é também um prédio com histórico importante para a fotografia em Belo Horizonte”, celebra a artista.

5 casas

A exposição “5 casas” é um convite a uma imersão no universo de imagens do artista Bruno Barreto. O projeto retrata a busca pelas memórias de infância do artista, 20 anos após deixar Dom Pedrito, a pequena cidade onde nasceu, no interior do Rio Grande do Sul. Essa busca se dá através de um extenso trabalho de arqueografia pessoal, em que o artista coleta fragmentos da sua história, marcada pela morte prematura de seus pais por câncer, doença que assola a cidade.

Ao buscar reconstruir as memórias de um passado que tentou esquecer, como que tentando esquecer a dor da perda, do luto e das saudades, Barreto se depara com as complexidades e contradições da própria cidade onde viviam, e vai reencontrar e retratar uma série de lugares e pessoas que foram importantes na sua formação.

Personagens guiam esse percurso rumo a um universo de imagens fragmentadas, paisagens esquecidas e laços desfeitos: uma velha professora de francês tocando um piano desafinado acompanhada de seus 36 gatos, um homem que vive há mais de 40 anos sozinho em uma fazenda mal-assombrada, um grupo de freiras que conduzem uma escola de ensino fundamental, um jovem gay sofrendo bullying e agressões e um menino cujos pais morreram 20 anos atrás. Ao retornar em busca de suas lembranças, o artista se depara não somente com a realidade dos lugares e pessoas que ficaram, mas também com a possibilidade de redescobrir a sua própria história.

A exposição faz parte do Projeto 5 CASAS, que teve origem no programa de mestrado em poéticas visuais no PPGAV/UFRGS sob a orientação do crítico e professor Alexandre Santos. Desde então, o projeto contou com a realização de uma exposição a convite do Centro de Fotografía de Montevideo e de um longa-metragem documental 5 CASAS / 5 HOUSES. O filme participou de grandes eventos internacionais e, em novembro de 2020, teve sua première internacional como único longa-metragem brasileiro na competitiva oficial do maior festival de arte documental do mundo, o IDFA, em Amsterdam, e segue percorrendo o circuito de festivais internacionais. O projeto conta ainda com um livro/arte homônimo, que foi concebido pelo artista.

Prêmio Décio Noviello de Fotografia

Ainda em 2015, a FCS requalificou a CâmeraSete, transformando o local em um espaço dedicado exclusivamente à linguagem fotográfica. A partir daquele ano, o espaço recebeu a alcunha de CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais. Assim, era criado um edital exclusivo para contemplar essa expressão artística.

A adequação também veio atender a uma necessidade da própria classe artística, com o estabelecimento de um espaço referencial para ações de debates e reflexões sobre esta linguagem cada vez mais difundida. Em 2020, o Edital de Ocupação FCS de Fotografia passa a se chamar Prêmio Décio Noviello de Fotografia, em homenagem ao artista mineiro.

O Edital segue para sua 6ª edição consecutiva, e a iniciativa já recebeu centenas de inscrições com propostas vindas de todo o país. Desde sua primeira edição, o Edital de Fotografia da FCS já contemplou trabalhos dos artistas Chris Tigra, Matheus Dias, Dalila Coelho, Maurício Pokemon, Victor Galvão, Élcio Miazaki, Daniel Oliveira, Letícia Lampert, Luiza Baldan, Nelton Pellenz, Tiago Aguiar e do Coletivo Família de Rua.

Serviço
CâmeraSete
Endereço: Av. Afonso Pena, 737 – Centro, Belo Horizonte
Horário: de terça a sábado, das 9h30 às 21h

Foto: Bruno Barreto