AS ELEIÇÕES PARA PREFEITO EM CATALÃO
De 1947 para cá, quando começaram as eleições democráticas, Catalão teve 19 disputas eleitorais para prefeito. Os médicos foram vitoriosos na maioria delas, seguidos por empresários urbanos e rurais. Mas, nem todos os eleitos cumpriram o período integral de mandato, por razões diferenciadas, sendo substituídos pelos respectivos vice-prefeitos, que também marcaram presença na administração do município.
Verdade que, antigamente, na época da Primeira República, havia eleições para escolha dos Intendentes Municipais até 1930. Mas, o processo não era transparente e, ainda por cima, bastante seletivo. As mulheres, os analfabetos, as pessoas desprovidas, os soldados rasos, por exemplo, não participavam do pleito eleitoral. Além do que, o voto não era secreto e o processo estava fortemente monitorado pelos coronéis.
A partir de 1930, durante o período da ditadura Vargas, os prefeitos municipais passaram a ser nomeados pelo governante estadual, sem a mínima consulta popular e sequer definição de mandatos. Até que, em 1946, com uma nova constituição federal, foram aprovadas eleições livres, diretas e secretas para o cargo de prefeito e demais instâncias de representação política.
Em Catalão, o primeiro prefeito a ser democraticamente eleito foi o pecuarista João Netto de Campos, que exerceu o mandato de 1948 a 1950. A eleição foi traumática porque ele representava uma profunda mudança no tradicional comando político da cidade. Até então, as famílias Paranhos, Aires, Cunha, Pires, Paiva e Sampaio se revezavam no exercício do poder local. A família Netto, embora atada genealogicamente a elas, passou a representar oposição. João Netto contava com o apoio do povo e não das elites, conforme costumava dizer.
A princípio, sua administração deu prioridade à zona rural do município, onde residia parcela substancial da população. Inclusive abriu uma escola que se tornou o povoado da Barra e, tempos depois, a cidade de Davinópolis. Ao mesmo tempo, preocupou-se em dotar Catalão com uma agência do Banco do Brasil e transferir os serviços de energia para a Companhia Prada de Eletricidade.
A partir de então, mais do que prefeito, João Netto se tornou um líder político. Com grande carisma e popularidade, passou a comandar, por décadas, os rumos da política catalana. Foi eleito deputado estadual e, com seu apoio, quatro prefeitos saíram vencedores das urnas: Cyro Netto, Antônio Chaud, Jacy Netto e Osark Vieira Leite.
Como sucessor de João Netto na prefeitura, Cyro Netto ficou de 1951 a 1954. Deu início ao calçamento de paralelepípedos na rua central, mas o seu grande feito ocorreu na zona rural ao construir uma ponte sobre o rio São Marcos, facilitando acesso ao povoado da Barra e ao distrito de Santo Antônio do Rio Verde. Cyro Netto era muito popular nos distritos do município e, durante sua gestão, Ouvidor e Três Ranchos foram emancipados em 1953.
A eleição seguinte escolheu Antônio Chaud para prefeito, um respeitado professor que cumpriu o mandato de 1955 a 1958. Homem de invejável cultura, dedicado ao ensino colegial, tornou Catalão conhecida em nível nacional. O município foi escolhido, como um dos cinco no país, a receber verbas em um projeto educacional de larga escala. Catalão ganhou, na época, recursos para construção de quatro grupos escolares e o prefeito recebeu, das mãos do presidente JK, um diploma de honra ao mérito. Antônio Chaud exerceu cargos importantes no governo estadual e, onde quer que estivesse, sua presença instigava um verdadeiro respeito por Catalão.
Entretanto, a década de 1950 não foi boa para o município em termos econômicos. Com o desenvolvimento do eixo Goiânia-Anápolis, o programa de Colonização Agrícola Nacional em Ceres e a opção pelo rodoviarismo, a região da estrada de ferro ficou relegada e esquecida. Ocorreu um êxodo muito grande de empresários, principalmente de Ipameri e Catalão, rumo aos maiores centros urbanos de Goiás.
Foi nesse contexto de estagnação econômica que o médico Jacy Netto assumiu a prefeitura no período de 1959 a 1962. Apesar de tudo, o clima ainda era de festa. Logo no primeiro ano de seu mandato, Catalão comemorou cem anos de emancipação e a histórica passagem do centenário da cidade recebeu apoio e incentivo da prefeitura. Na ocasião, inaugurou-se a Santa Casa de Catalão, a torre do relógio e uma grande ponte sobre o córrego Pirapitinga. No entanto, a gestão de Jacy Netto ficou melhor caracterizada pela atenção que concedeu aos problemas na área de saúde. Tanto que, logo que deixou a prefeitura, foi nomeado Secretário Estadual da Saúde pelo governador Mauro Borges, sendo um dos mentores da criação do Ipasgo.
A década de 1960 trouxe novas esperanças para Catalão e, ao mesmo tempo, provocou mudanças no quadro político. A construção da ponte Wagner Estelita, a abertura da BR-050 e as diversas visitas do presidente JK a Catalão inspiraram anseios e esperanças na esfera econômica. Contudo, o golpe militar de 1964 acarretou sérios transtornos políticos na ordem democrática local. As alterações na legislação eleitoral facilitaram a alternância de lideranças políticas municipais.
O sucessor de Jacy Netto, na prefeitura municipal, era um homem simples voltado para negócios e afazeres na zona rural. Osark Vieira Leite assumiu o mandato em 1963, mas sofreu impedimento no ano seguinte. Como prefeito, Osark vivenciava mais de perto a balbúrdia política que se instalara no governo federal e que culminou no golpe militar. Ademais, a Câmara Municipal alegou haver indícios de desvios nos recursos públicos da prefeitura. Ninguém duvidava da honestidade do prefeito e sim de alguns dos seus assessores. Feita uma auditoria e constatadas irregularidades, Osark Leite acabou sendo afastado da administração pelos vereadores, em razão de não ter tomado providências após as denúncias.
Faltava menos de dois anos para o término do mandato quando o vice-prefeito Paulo Hummel assumiu a gestão. Todavia, apesar do curto período, conseguiu deixar o seu nome em várias realizações. De forma bem resumida, Paulo Hummel prosseguiu com o serviço de água tratada, iniciado pelo seu antecessor, implantou novas redes de esgoto e promoveu o calçamento de bloquetes na área central da cidade.
Vieram as eleições, com novas regras criadas pelo governo militar e, pela primeira vez, um grupo político contrário ao líder João Netto ganhou força. O vitorioso foi Leovil Evangelista da Fonseca que administrou a prefeitura de 1966 a 1968. Empresário do ramo da carne, Leovil, até então, se mostrara alheio a querelas políticas. Contudo, na sua gestão, reorganizou as finanças da prefeitura, arborizou as principais avenidas e construiu uma estação rodoviária municipal. Com o salário de prefeito edificou dezenas de casas e doou para famílias pobres inaugurando a Vila Raulina. Cumprindo acordo verbal, feito anteriormente, deixou o último ano de mandato para o seu vice-prefeito, Bento Rodrigues de Paula.
Em apenas um ano de administração, em 1969, Bento realizou diversas obras. Providenciou o calçamento da avenida José Marcelino, urbanizou a avenida João XXIII e terminou a construção do colégio Wagner Estelita Campos. Além disso, realizou empreendimentos sociais com o auxílio do poder municipal e de entidades a que pertencia.
Nas eleições de 1969, dado o crescimento político de seus oponentes, João Netto colocou em teste o seu próprio prestígio, candidatando-se a prefeito. Vitorioso, exerceu o mandato de 1970 a 1972, de acordo com as regras eleitorais da época. Fato marcante de sua gestão, dessa feita, foi dotar Catalão com os serviços de água tratada da Saneago. Para tanto, contou com a ajuda do deputado Enio Pascoal. Apesar de ferrenhos adversários, quando se tratava de proporcionar benefícios para a cidade, agiam conjuntamente.
Contudo, o trabalho de João Netto, naquele momento, não obteve continuidade política. Nas eleições seguintes, o candidato vencedor foi Silvio Paschoal, médico que adquirira grande prestígio no atendimento aos clientes da Santa Casa. Embora tido com mal-educado e brusco, Silvio Paschoal assumiu o apelido de “Cavalo da Arena” e cumpriu o mandato de 1973 a 1976. Preocupado com a saúde preventiva da população e a urbanização do ribeirão Pirapitinga, conseguiu recursos junto ao governo federal para início da canalização do córrego. Com isso, promoveu a primeira etapa de abertura da avenida Raulina Fonseca Paschoal.
Na década de 1970, duas novas oportunidades econômicas surgiram no horizonte de Catalão: a modernização da agricultura e a exploração mineral. No término da sua gestão, Silvio Paschoal incentivou a primeira família de produtores gaúchos a se instalar na região de Santo Antônio do Rio Verde e participou das conversações para implantação da Goiasfertil na região. Mas, a grande transformação econômica do município ainda estava para acontecer, com a delimitação de um distrito industrial.
A Arena, partido oficial do governo, estava em processo de desgaste no Brasil todo. Em Catalão, entretanto, o trabalho sério do prefeito Sílvio Paschoal fornecia ânimo e sobrevida à agremiação. Nesse ambiente otimista, vieram as eleições de 1976 e a indicação do partido apontou para os irmãos Rocha, família muito respeitada de empresários agroindustriais. José Rocha aceitou a indicação para candidato sendo apoiado, de imediato, pelos irmãos.
José Rocha, afeito ao trabalho desde menino, tinha uma extensa folha de serviços prestados à comunidade e foi eleito prefeito ocupando o cargo de 1977 a 1978, quando foi obrigado a se afastar por motivos de saúde. Os projetos que desenvolvia na prefeitura foram concluídos pelo vice-prefeito, Divano Elias da Silva, que assumiu o cargo em 1979 permanecendo até 1982, em virtude da prorrogação de mandato.
Divano Elias era uma pessoa simples, da zona rural, que deixou grandes feitos em Catalão. Construiu o prédio da prefeitura, o novo mercado municipal, a rodoviária no alto das Três Cruzes, o cemitério São Pedro e assinou convênio com a UFG para o curso de extensão no município. Na sua gestão ficou delimitada uma área para o distrito industrial onde grandes empresas iriam se instalar anos depois.
A década de 1980 trouxe modificações de ordem econômica, demográfica e política em Catalão. As mineradoras de fosfato e nióbio entraram em acelerada produção, a população do município aumentou substancialmente com o novo atrativo econômico e a distensão política, com o fim do governo militar, abriu caminho para novas lideranças. No estado, o carisma e a liderança de Iris Rezende ganhavam enorme popularidade.
Nesse ambiente de mudanças, foi eleito para a prefeitura o empresário Haley Margon Vaz que ficou de 1983 a 1988 em virtude de nova prorrogação dos mandatos municipais. A chapa vitoriosa trouxe como vice-prefeito o velho guerreiro, João Netto de Campos.
Acostumado ao trabalho, de forma incansável, Haley Margon transformou as estruturas sociais e econômicas do município. Levou energia para a zona rural, criou uma escola agrícola municipal, inaugurou o transporte escolar nos povoados, distritos, e construiu uma ponte sobre o rio São Marcos. Na sua gestão foi inaugurada a pavimentação Catalão-Goiânia, ampliada a infraestrutura do distrito industrial, e consolidado o curso superior da UFG em Catalão. Auxiliado pela primeira-dama, Joana Gomide, sua gestão construiu um aparato de assistência social admirável com as legionárias do bem estar.
Na eleição municipal de 1988 surgiu uma divisão entre lideranças partidárias e a nova configuração permitiu a vitória de Aguinaldo Mesquita para a prefeitura. O médico cumpriu o seu mandato de 1989 a 1992, sendo o primeiro prefeito a ser eleito sob a sigla do Partido da Frente Liberal. Administrou a cidade sob o slogan “Catalão mais humana”, promovendo medidas importantes na área da saúde, na dimensão cultural e no setor da educação.
O sucessor de Aguinaldo Mesquita, o médico José Moreira, do PMDB, obteve larga vantagem na votação e administrou Catalão de 1993 a 1996. Com a tranquilidade que lhe é peculiar, atuou em diversas áreas. Reestruturou e urbanizou a avenida 20 de Agosto, inaugurou o Palácio da Justiça, o Centro Integrado de Apoio à Criança e instalou a Fundação Cultural no prédio do antigo Fórum da cidade, entre outras realizações.
Tudo indicava que o seu sucessor seria do mesmo partido em razão do trabalho realizado. Porém, Catalão estava em franca explosão demográfica e surgiu a candidatura de Eurípides Pereira Ferreira, ex-prefeito de Três Ranchos. Em um pleito bastante acirrado, Eurípides foi eleito para o mandato de 1997 a 2000. Todavia, em agosto de 1998 seu corpo foi encontrado na residência, depois de ter sido barbaramente executado a tiros.
Assumiu a vice-prefeita Maria Ângela de Mesquita, primeira mulher a administrar a prefeitura do município. O ambiente estava muito pesaroso com o assassinato do prefeito, ainda mais porque não se descobria os culpados. Mas, com a serenidade necessária, Maria Ângela cumpriu o mandato de agosto de 1998 até o ano 2000. Como professora experiente, concentrou-se no aprimoramento da educação e nas obras de assistência social. Além do que, continuou os trabalhos de Eurípides Três Ranchos na dotação de infraestrutura para instalação da Mitsubishi em Catalão.
A década de 1990 marcou a economia do município dando início a um vigoroso processo de industrialização local. Grandes empresas montadoras de implementos agrícolas e veículos automotores começaram a produzir no distrito industrial. Além do que, pela localização privilegiada do município, o setor de serviços e distribuição logística encontrou em Catalão um lugar privilegiado para instalação de suas filiais.
No campo político, novas lideranças foram se destacando. O médico Adib Elias Júnior obteve vitória nas eleições municipais, renunciou ao mandato de deputado estadual, e passou a comandar a prefeitura no período de 2001 a 2004.
Adib Elias Júnior havia sido o primeiro médico catalano a se filiar ao PMDB e se revelou um carismático administrador municipal. Tanto que a sua reeleição ao cargo foi tranquila, ganhando mais um mandato de 2005 a 2008. Logo de início, Adib Elias criou a SAE, inaugurando um serviço municipal de água e esgoto, desligando Catalão da rede estadual da Saneago. Entre inúmeras realizações, construiu o Hospital Materno Infantil, promoveu a urbanização das grandes avenidas e criou o Centro de Convivência da Terceira Idade. Acabou sendo apelidado de “trator” por conta da realização de grandes obras, elevando o nome de Catalão no contexto estadual.
Nas eleições de 2008, a indicação do PMDB foi Velomar Rios que, desde a década de 1980, trabalhara como auxiliar do prefeito Haley Margon assumindo diversos cargos públicos. Eleito para o período de 2009 a 2012, Velomar realizou dezenas de obras na área de infraestrutura, moradia, saúde, meio ambiente, esportes e cultura no município. Ficou conhecido popularmente como um homem disposto, dedicado, esforçado e trabalhador.
No pleito seguinte, em 2012, dois médicos disputaram a eleição municipal: Jardel Sebba e Adib Elias, quando ocorreu um episódio inusitado. Após a apuração, Jardel Sebba recebeu 50,1% dos votos válidos e Adib Elias ficou com 46,6%. No entanto, a apuração disponibilizada no site do TSE dava os votos para Jardel como não computados, uma vez que teve a candidatura impugnada e precisou aguardar decisão judicial para assumir o cargo. Resolvido o imbróglio, Jardel Sebba finalmente tomou posse para o mandato de 2013 a 2016.
Como prefeito de Catalão, estruturou a nova sede da polícia técnico-científica, implantou o estacionamento rotativo no centro da cidade, pavimentou novos loteamentos, duplicou avenidas, construiu unidades básicas de saúde, academias ao ar livre e fez represamento do ribeirão Pari para abastecimento da cidade.
A administração pública de Catalão se tornava cada vez mais complexa e exigente. Nas primeiras décadas do século, a demanda por medidas de amparo social explodiu, principalmente porque o número de moradores do município dobrou no curto prazo. A cada dia, novas necessidades eram apresentadas ao poder público.
Foi nesse ambiente febril que Adib Elias Júnior retornou ao cenário político, sendo eleito prefeito, pela terceira vez, com mandato de 2017 a 2020. De imediato, um novo pacote de obras foi implementado. Entre elas, a expansão do sistema de esgoto, a canalização de mais uma etapa do córrego Pirapitinga, a reestruturação das praças Getúlio Vargas e Duque de Caxias, a construção do Arco Viário, da represa da Bica, da Academia Catalana de Letras, da nova sede do Ipasc e Pro-Saúde, bem como o início da revitalização da Fundação Cultural e outras inúmeras realizações.
O slogan “cidade que sonha e faz” combinou com o ambiente de transformações que Catalão atravessa na atualidade. Os projetos encampados pela administração municipal são cada vez mais audaciosos e apontam para um padrão de vida mais elevado em prol da população como um todo.
Nas eleições de 2020 o prefeito Adib Elias foi reeleito para mais uma gestão que começou no ano passado. Com isso, uma nova gama de projetos está em andamento, entre eles, a nova canalização do córrego, o hospital regional, a implantação da Ceasa, bem como a extensão da rede de esgotos e água tratada.
Assim, finalmente, decorreram 75 anos de administração municipal em Catalão, de 1947 aos dias de hoje, aqui abordados de forma bastante resumida. Um longo período de construção que comprova o esforço dos catalanos no desenvolvimento social, econômico, ambiental e cultural do município.
FOTO: Ilustração feita pelo Jornal O CATALÃO, com fotos e mandatos dos prefeitos que assumiram até 2020