CONTORNOS FESTIVOS por Cairo Mohamad Ibrahim Katrib
Catalão cenário por excelência das comemorações em louvor a Nossa Senhora do Rosário, realiza a Festa há mais de cento e trinta e dois anos ininterruptos (Texto escrito em 2003). Nesse contexto, em que Catalão passou a ser conhecida nacionalmente, se encenam de mais de vinte ternos, com cerca de três mil dançadores.
Durante a Festa, Catalão vive em função dessa comemoração. A população local que está estimada, hoje, em torno de oitenta e cinco mil habitantes, de acordo com dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE aumenta consideravelmente chegando a perfazer um total de mais de 100 mil pessoas. Essa população transitória mostra o significado não só cultural ou devocional, mas também, comercial que a comemoração representa, posto que as festividades em louvor a Nossa Senhora do Rosário de Catalão são marcadas pela realização de uma enorme feira temporária que se estende pelas ruas adjacentes à igreja, em torno da qual a Festa acontece.
Esse atrativo comercial funciona como um grande “Shopping” a céu aberto que atrai a atenção tanto dos comerciantes ambulantes de diversas partes do Brasil, da região, como dos próprios lojistas locais, que também armam suas barracas para aproveitar o fluxo de pessoas e de dinheiro que percorrem os labirintos comerciais em torno da área da Festa.
Na perspectiva de um olhar mais atento, percebi com a pesquisa que os processos de sociabilidades se (re) constroem a partir das experiências dos sujeitos envolvidos com essas práticas culturais coletivas e, nesse sentido, a cidade é o cenário de sua realização e a Festa é o seu layout-motivo. As múltiplas formas de se encontrar na Festa seja na visão do crente, do congadeiro, do comerciante, do político, da igreja, mesmo com interesses diversos, é percorrendo esse espaço, pois ali compartilham suas experiências e as linguagens utilizadas não se decodificam apenas em falas e sim em gestos e olhares capazes de aproximar as pessoas como também de distanciá-los de acordo com suas expectativas.
Todavia, o encontro se realiza num espaço que se transforma em um lugar festivo. Nessa lógica, a cidade é o espelho que reflete a Festa e, aos olhos da população local, a comemoração pode representar momento de lazer, sociabilidade, de diversão ou ser também um espaço para expressar a religiosidade, a devoção ao santo padroeiro, além de lugar de trabalho, de prazer e, aliado a isso tudo, pode se efetivar como sendo o espaço da visibilidade política e social das famílias tradicionais do lugar; ou dos grupos minoritários que reafirmam sua devoção, sua cultura num contexto de uso coletivo, mas não usufruindo de igual para igual.