O PIRAPITINGA

O ribeirão Pirapitinga, com cerca de 40 km de extensão, nasce na periferia de Catalão, perto dos 900 m de altitude, e desagua no lago formado pela represa de Itumbiara, existente no Rio Paranaíba, no município de Anhanguera, a 524 m do nível do mar. No seu curso descendente, forma inúmeras cascatas ou pequenas cachoeiras.
Leva esse nome porque, outrora, atraia cardumes de Pirapitinga, um peixe muito exigente com a qualidade das águas onde procria. Por isso, procura as cabeceiras dos pequenos cursos d’água, fugindo dos rios e das águas paradas. Essa sua característica fez que alguns estudiosos a denominasse de “salmão da água doce”.
A Pirapitinga aqui existente (Bricon nattereri) é um peixe fluvial de porte médio, com cerca de 40 cm de comprimento, cujo nome tupi significa peixe da casca branca, e ocorre em alguns rios da bacia do Tocantins, Paraná e São Francisco, espécie hoje inscrita no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do ICMBio.
Há outras duas espécies de Pirapitingas: a Piaractus brachypomus, nativa da Amazônia, também chamada de Caranha, que pode alcançar até 14 kg (com várias subespécies), e a Brycon opalinus, que ocorre na bacia do Paraíba do Sul, de porte médio e, também, em risco de extinção.
A nossa Pirapitinga se alimenta de insetos, vegetais e pequenos animais aquáticos, sendo bastante sensível a alterações ambientais, como a poluição das águas e a construção de barragens, o que torna crítica a sua situação em nossa região, rodeada por represas e pelo uso do ribeirão a qual deu o nome como receptor sistemático de esgotos. O que era seu paraíso, hoje é seu purgatório. Espera-se que a entrada em operação da nova usina de esgotos de Catalão, com a melhoria do tratamento e a ampliação de sua capacidade, torne possível a sobrevivência da Pirapitinga, mormente a existência de muitos lançamentos clandestinos de dejetos.
O ribeirão Pirapitinga nunca foi um caudaloso curso d’água, mas por nascer entre montes e atravessar um relevo acidentado, mostra sua força por ocasião das tempestades, comuns durante o verão, como que a reclamar dos desaforos a ele deferidos no trecho urbano de Catalão. Só ali construíram três represas, bonitas até, mas que o descaracterizaram e impedem a subida dos peixes que buscam suas puras nascentes para se reproduzirem, inclusive a Pirapitinga. Mereciam, ao menos, as escadas que permitam esse acesso.
E ao invés de se proteger suas margens, arborizando-as, destruiu-se quase toda a mata ciliar que o acompanhava dentro da cidade, além de concretar grande parte do seu leito em Catalão, aumentando a velocidade de suas águas, tornando-as perigosas nas enchentes.
Para o que está feito, o bom-senso pede, ao menos, que se minimizem os estragos realizados. Pois, nas palavras do Luís Estevam, “Catalão surgiu dentro de um vale muito bonito, no fundo do qual corria bravamente o ribeirão Pirapitinga”. Por uma questão de gratidão ao manancial que acolheu e supriu o nosso povo, permitindo a formação desse burgo tão diferenciado e privilegiado, a preservação do Pirapitinga, da sua fauna e da sua flora, é o mínimo que podemos fazer.
FOTO: O percurso do Pirapitinga. Foto obtida no Google Earth, com arte de Rosana Hummel
FOTO: As nascentes do Pirapitinga. Foto obtida no Google Earth.
FOTO: O Pirapitinga canalizado
FOTO: A Represa do Povo, uma das barragens do trecho urbano do Pirapitinga
FOTO: A Pirapitinga
Por Paulo Hummel Jr