Recordações da Academia Catalana de Letras – Moisés Santana

A Academia Catalana de Letras relembra que, um jornalista vilaboense, para sair com vida de Catalão, teve que fugir enrolado em um colchão e colocado num vagão de carga da estrada de ferro. Tamanha era a hostilidade do ambiente para com órgãos de imprensa que contrariassem os chefes políticos de antigamente.
O nome do vilaboense era Moisés Santana, assassinado na redação do jornal “Lavoura e Comércio” de Uberaba, poucos anos depois de sua espetacular fuga de Catalão.

Os jornais do interior, no início do século passado, tinham vida curta. Suas matérias eram carregadas de emoção e suas posições eram fortemente politico-partidárias. Serviam para atender os ideais de exibição pessoal de chefes políticos ou então, pelo contrário, para manter uma posição de confronto contra os detentores do poder. Os jornalistas, ao esposar qualquer lado da refrega, quando derrotados perdiam a condição de viver na cidade com segurança. A não ser que a facção perdedora tivesse condição de acoberta-los contra a ira dos adversários. O que era muito raro e difícil.

Na época, matar jagunço era até aceitável porque se tratava de legítima defesa e matar jornalista era facilmente defensável porque se tratava de um ato em defesa da honra. O vilaboense sabia disso, mas como jornalista atrevido e polêmico, acabou sendo algoz de si mesmo.
Moisés Santana, natural da Cidade de Goiás, ingressou no Educandário Santa Cruz e depois foi para a Escola Militar do Rio de Janeiro onde experimentou breve carreira no exército brasileiro. Com o temperamento indisciplinado e rebelde, foi destituído da corporação. Afastado foi, como disseram, porque seria capaz de vaiar o próprio Ministro da Guerra ou o Presidente da República. De lá, Moisés Santana foi para São Paulo onde assumiu um cargo na segurança pública. Mas, não fixou residência, tornando-se, desde então, um andarilho profissional. Retornou a Goiás, vivendo em Anápolis, Cidade de Goiás, Santa Rita do Paranaíba, Inhumas, Rio Verde e outras cidades do Triângulo Mineiro. Em todos esses lugares deixou histórias marcantes de sua passagem. É tido como o criador do nome de Anápolis, que se chamava Sant’Ana das Antas e de Inhumas que era conhecida por Goiabeira. Em todas essas cidades, esteve acompanhado da esposa, a anapolina Cassiana de Souza Dutra e dos filhos.

Em Catalão fundou o jornal “Sul de Goiaz” em agosto de 1907. O períodico esteve menos de um ano em circulação. Era um profissional de grande talento, uma pessoa extraordinária, mas de uma independência total, que não combinava com o forte coronelismo municipal.
Foi intimado a fechar o jornal e a sair da cidade. Não encontrando outra alternativa, pegou a família montou no cavalo e partiu. Na última edição do “Sul de Goiaz”, em junho de 1908, deixou registrada a sua impressão da cidade: “Catalão, terra que tem secularmente formada uma tradição de crimes, dos mais grosseiros e revoltantes atentados à vida, à propriedade e à liberdade, manietada sempre e sempre por um mandonismo ferrenho, tremendo e odioso. Entregue às mãos criminosas de um ajuntamento de imbecis, armados com os poderes discricionários do mando político e da autoridade da justiça, convertida numa berregã imunda, sem honra e sem brio”.

Deixou publicada tamanha ofensa e desapareceu.

Porém, depois de oito anos, em 1916, Moisés Santana retornou à “berregã imunda e sem brio”. Aqui já vivia a sua irmã mais nova, Dona Iayá, eminente professora do Externato Santana. Logo reabriu o antigo periódico “Sul de Goiaz” como jornal político ainda mais combativo que antigamente. Segundo alguns memorialistas, difamava e escrevia horrores das autoridades constituídas de Catalão. Na verdade, o “Sul de Goiaz” mostrava ser um jornal independente, opinativo e destemido.

Novamente o periódico durou menos de um ano. Moisés Santana, consciente de que estava sendo caçado por jagunços e de que iria ser fatalmente morto, foi auxiliado por alguns amigos que o despacharam de trem para Uberaba, envolto em um colchão.

Jornalista de reconhecida competência, foi logo empregado no “Lavoura e Comércio” de Uberaba onde trabalhou por alguns anos. Porém, morreu aos 43 anos, friamente assassinado na redação daquele jornal pelo médico João Henrique Sampaio Vieira da Silva, em razão de seus escritos na imprensa uberabense. João Henrique era um poderoso político local e, logo após o crime, compareceu ao quartel da polícia dando conta do ocorrido. Foi absolvido pelo tribunal do júri como ato cometido em defesa da própria honra.

Moisés Santana era bastante conhecido na imprensa estadual e nacional que muito lamentou o ocorrido. No Rio de Janeiro, o escritor Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, registrou: “Foi o polemista mais audaz e vigoroso do seu tempo”.

Mesmo em Catalão, de onde foi expulso duas vezes, ganhou nome de logradouro público: Rua Moisés Santana.

FOTO: Casa onde funcionou o Externato Santana da professora Dona Iayá (Catalão)

FOTO: Antiga sede do jornal “Lavoura e Comércio” (Uberaba)

FOTO: Exemplar do início do século passado do jornal de Uberaba

FOTO: Moisés Santana (1879-1922)

Luís Estevam

 

 

 

 

 

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