O Eco do Passado – Salvo de uma tentativa de assassinato

Tive uma experiência assustadora, na época em que trabalhei com o João Carneiro Vaz, goiano, ex-Deputado Federal, como Gerente da Madeireira Vale do Paranã, em Brasília.

Como eu tinha um grande conhecimento de madeira e graças a Deus tinha também uma grande maleabilidade em lidar com equipes de pessoal, aceitei o emprego e fiquei quase dois anos à frente daquela firma, que tinha um quadro de mais de 100 funcionários!

Certo dia, analisando os controles da empresa, percebi que não estavam batendo as contas dos tacos lá produzidos. Eu, que sempre fora muito meticuloso em lidar com coisas alheias, sob a minha responsabilidade, fui investigando com muita cautela e, com a ajuda de alguns funcionários, descobri quem estava desviando a mercadoria.

Levei o caso ao conhecimento do dono da empresa, o Deputado João Carneiro Vaz, pessoa bondosa e ele me pediu para não fazer nada contra a pessoa que fizera a venda, pois tratava-se de um dos seus primeiros funcionários e que muito o ajudara a montar a firma. Disse que eu deixasse passar aquela falta e que o vigiasse bem, no futuro!
Como ele era o dono da empresa, acatei as suas ordens, embora não achasse certa a sua decisão, mas afinal, o dono é quem decide!
Dentre uns 30 funcionários de confiança que eu trouxera de Catalão, estava o Beca, uma pessoa de honestidade e capacidade a toda prova e que já fora delegado em Davinópolis. Ele virou a sombra do tal funcionário, um baiano, bom marceneiro, que se chamava Waldemar, muito vivo! Ele logo desconfiou que estivesse sendo vigiado, pois estava sem jeito de continuar com as vendas clandestinas.

Certa ocasião, ao passar perto da seção onde ele trabalhava e estando de costas, ouvi um grito e rápido como sempre fora, saltei de lado, quando ele, Waldemar, iria me dar a primeira estocada, pelas costas, com um formão comprido e estreito, arma mortífera e perigosa. No momento em que ele ia repetir o gesto, o meu amigo Beca deu-lhe uma pancada na cabeça, com uma madeira, e ele tombou de borco.

Quando recuperou os sentidos, estava bem amarrado. Então, eu fui até ao meu escritório, peguei meu revólver e liguei para a polícia. Como a madeireira era bastante conceituada, devido ao seu proprietário, e sabendo que a polícia viria rapidamente, chamei meu amigo Beca, que me salvara a vida, e chorando o abracei e lhe agradeci de coração por aquele seu gesto que partira somente dele, pois eu jamais pediria a um funcionário semelhante coisa. Chorei de verdade e ele também chorou!

Beca era tio do Sebastião Moreira, um artista na profissão de marceneiro, o qual era genro do nosso saudoso George Rosa. O Sebastião fora para a madeireira levando a esposa e um pirralho, o Tiãozinho. Lá na madeireira ele mostrou que era realmente um artista!

Logo a polícia chegou e após ouvir-me e ao Beca, algemou o “valentão”, levando-o para o xadrez! Mas o deputado, que era amigo do cara, levou a polícia na conversa e o indivíduo foi solto!
Na manhã seguinte, o deputado pediu-me para esquecer o assunto e que aceitasse o vagabundo de volta! Porém, aí eu pedi as contas, pois eu não sou daqueles que convivem com ladrões! Então ele voltou atrás e me deu razão e disse-me que eu tomasse muito cuidado com o meu agressor, pois ele tinha passagens pela polícia e era de fato uma pessoa perigosa!
Passados poucos dias, o comissário Custódio foi à madeireira, levando um jornal do dia em que constava a morte do tal indivíduo, que parece que tinha uma rixa séria com a polícia e levara a pior!

Mas minha estada ali naquela empresa foi curto. Depois daquele episódio, eu havia perdido a confiança no patrão, que me pedira uma coisa que eu julguei inconcebível!

Pedi minhas contas e fui fazer para o Dr. Wesson Alves Pinheiro, no Gama-DF, a construção do que viria ser a primeira criação de láparos de Brasília (coelhos de três dias), cujo sangue é aplicado na fabricação de vacinas contra a febre aftosa.

Já estava quase terminando a construção, quando fui intimado pelo meu padrinho João Netto de Campos, pelo Izildinho e pelo Eurípedes Santos, que foram buscar-me para a campanha do nosso candidato a prefeito de Catalão, o Sr. Mauro Netto de Campos.
Com minha saída houve uma arribação dos funcionários que eu havia levado de Catalão. O nosso Tiãozinho foi parar em Belém-PA, onde tinha um irmão, o Walmer, mas logo voltou, fixando residência em Anápolis, onde montou uma empresa própria! Porém, essa firma não durou muito e ele acabou deixando Dª. Hilda e os filhos que hoje estão muito bem em Catalão!
Tiãozinho, que estava na seção na hora da agressão, disse-me depois que não sabia como pude me livrar da primeira estocada! Respondi-lhe que fora o grito do seu tio Becas e a rapidez com que eu ligara os fatos e saltara velozmente que me salvaram!

Mas, na verdade houve a mão divina em tudo aquilo! E tenho plena convicção de que a misericórdia de Deus já o recompensou.

 

FONTE: (Extrato do livro O Eco do Passado, de Paulo Hummel)

 

 

 

 

 

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