Recordações da Academia Catalana de Letras – Colégio Nossa Senhora Mãe de Deus

A Academia Catalana de Letras recorda que, há 99 anos, cinco freiras agostinianas iniciaram a educação de moças em Catalão, fundando o Colégio Mãe de Deus. De lá para cá, sem interrupção nos trabalhos, a instituição esteve presente na formação educacional de praticamente toda a sociedade catalana.

A sobrevida do Colégio Mãe de Deus, desde 1921, constitui um dos maiores orgulhos de Catalão. Quantos empreendimentos industriais e comerciais que surgiram na mesma época, ou mesmo depois, não existem mais? Quantos clubes, instituições, entidades e órgãos de imprensa foram criados e hoje restam somente nos registros históricos do município?

A verdade é que, no silêncio e na solidão dos seus muros, o Colégio Mãe de Deus nunca perdeu o antigo vigor. O segredo foi a sua constante renovação, acompanhando as transformações sociais, aliada à competente dedicação de suas diretoras ao longo dos anos.

Porém, o início foi muito difícil. A paróquia de Catalão estava sob orientação dos padres espanhóis agostinianos desde o final do século XIX. Fundaram o colégio Sagrada Família em 1914, dirigido para os filhos homens da comunidade catalana que acabou fechando por falta de alunos. O colégio masculino não deu certo porque as famílias mais abastadas mandavam seus filhos para estudar fora e as famílias mais pobres não podiam dispensar os filhos jovens da labuta na roça ou nas indústrias locais.

Enquanto isso, as meninas e moças continuavam sem formação educacional adequada. Diante disso, o vigário de Catalão, Francisco Ignácio de Souza, começou a agir no sentido de fundar um colégio feminino na cidade. O clérigo, posteriormente conhecido como Monsenhor Souza, manifestava o seu desgosto pelo atraso de sua paróquia, desprovida de um só estabelecimento de ensino regularmente organizado. Chegou a formar uma comissão de trabalho com as famílias de Francisco Silva Ribeiro, Manoel Dias Prates dos Santos, Christiano Víctor Rodrigues, Odorico Gonzaga de Siqueira, Randolpho Campos, Jocelyn Gomes Pires, Roque Rodrigues da Paixão, Afonso Paranhos, Joaquim Netto Carneiro, Agostinho Martins Teixeira, Marcílio Ayres, Miguel da Silva Neto, Antonio Sebba e Osório Américo de Aguiar.
Apoiado pelas famílias de Catalão e com a anuência dos padres agostinianos, Monsenhor Souza conseguiu recursos junto ao bispo da Cidade de Goiás para sua pretensão. Assim ficou possibilitada a vinda de algumas irmãs agostinianas do exterior para fundar em Catalão um colégio para meninas e moças da região.

Como voluntárias, para assumir tal missão, apresentaram-se cinco irmãs espanholas: Natividade Gorrochategui, Maria da Paz Hernandez, Mercedes Iriarte, Esperança Guarrido e Inês Lopes. Elas deixaram Barcelona em janeiro de 1921 e o próprio Monsenhor Souza foi recebe-las no Porto de Santos. De lá, passando por Campinas, Uberaba, Araguari e Goiandira, vieram de trem para Catalão.

Na estação ferroviária de Catalão houve festa de recepção ao grupo religioso. A população se acotovelava na plataforma para conhecer as freiras meio a estampidos de foguetes e imensa curiosidade. Os moradores conheciam padres, mas freiras ainda não haviam pisado por aqui.
Da estação, as irmãs agostinianas desceram a pé, seguidas pela população, para a sua nova moradia. Foi cedido a elas, pela paróquia, o velho casarão à beira do Pirapitinga que pertencera antigamente ao saudoso vigário Luiz Antonio da Costa. O casarão era uma construção colonial, com janelões e grossos portais de madeira, assoalho de tábuas largas e sem forro.

Ali as freiras entraram para morar e ingressaram para sempre na vida de Catalão. Tiveram que se habituar aos velhos costumes de uma cidade interiorana, com ruas esburacadas e lamacentas, repleta de carros de boi e sacudida por uma série interminável de assassinatos violentos. A casa, de fogão a lenha, era servida por água diretamente dos regos e possuía um imenso quintal até as margens do córrego. Contaram com a ajuda e boa vontade de várias pessoas da comunidade que fizeram todo o possível para ajudá-las minimizando suas dificuldades iniciais e tropeços. Receberam aulas de português da professora Victorita Victor Rodrigues, recém formada no Rio de Janeiro e orientações culinária e doméstica por parte de Dona Rola de Araújo, esposa do português Joaquim de Araújo, seus vizinhos.
Depois de tornada a casa habitável, com móveis e utensílios doados por famílias mais abastadas, as agostinianas começaram a se preparar para os trabalhos educacionais, que começaram no próprio casarão.

Em 02 de julho de 1921, seis meses após a partida da Espanha, começaram a dar aulas em Catalão. Os bancos escolares eram de madeira maciça, toscos e pesados, que rodeavam uma grande mesa, utilizados pelas alunas como carteiras. Todas sentavam ao redor de uma mesma mesa.
Naquele primeiro semestre de funcionamento, em 1921, dado o esforço de Randolpho Campos e Dirceu Victor Rodrigues, as freiras arregimentaram trinta alunas.

Logo inaugurou-se o internato para atender moças da zona rural e de cidades vizinhas, como também servir de formação de vocações religiosas que foram surgindo ao longo dos anos. Inclusive, a primeira freira agostiniana do Brasil foi a catalana Maria de Jesus Victor Rodrigues, a jovem professora de português das irmãs.

Somente em 1935 construiu-se um novo prédio para o colégio, a princípio só térreo, ocasião em que o internato já acomodava 150 alunas. A partir de então, com uma admirável administração por parte das diretoras, o colégio adquiriu terrenos adjacentes, aumentando largamente as dependências, criando anexos, prédios novos, além de uma imponente e acolhedora capela.

No entanto, a maior edificação foi no campo intelectual. Os catalanos devem muito às madres agostinianas pelo esforço despendido na seguida formação de suas gerações. Um belo exemplo educacional de 99 anos.

O livro de Maria da Glória Rosa Sampaio e Eriziane de Moura Silva Rosa, “História que se torna Vida”, oferece uma bela pesquisa sobre o Colégio Mãe de Deus.

FOTO: As cinco madres fundadoras do Colégio Mãe de Deus em 1921

FOTO: A catalana Maria de Jesus Victor Rodrigues, primeira madre agostiniana do Brasil

FOTO: Desfile em frente o Colégio Mãe de Deus em Catalão, no final da década de 40

FOTO: Livro de pesquisa sobre o Colégio Mãe de Deus em Catalão

FOTO: Complexo educacional do Colégio Mãe de Deus em Catalão

(Luís Estevam)

 

 

 

 

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