Recordações da Academia Catalana de Letras – Aldemar Ferrugem, catalano morto no conflito da Segunda Guerra Mundial

A Academia Catalana de Letras relembra que, Ademar Ferrugem é nome de rua em Catalão e também em Goiânia.

O que poucos sabem, no entanto, é que esse soldado catalano passou por momentos muito difíceis em terras italianas, antes de receber o tiro de fuzil que o eliminou na II Guerra Mundial.

Em dezembro de 1944, enfrentando o vento gelado do inverno europeu, sob um frio de 18 graus negativos, Ademar Ferrugem permaneceu por vários dias em uma trincheira, recebendo descargas de fuzis noite e dia, ao lado de um companheiro de Mogi das Cruzes – SP. Para sobreviver tinham que buscar água e comida de madrugada, debaixo de um cerrado bombardeio inimigo.

O seu colega paulista sobreviveu para contar a triste história do herói nacional.

Aldemar Fernandes Ferrugem nasceu em Catalão de uma família simples da Rua da Grota. Filho do pedreiro Teodoro Ferrugem e da dona de casa Nicolina Honório Borges, nos seus documentos consta “Aldemar” e não “Ademar” como ficou conhecido. Família numerosa com oito irmãos, cinco homens e três mulheres que, na década de 1940, mudou-se para Goiânia em busca de melhores condições de vida.

Aldemar, o soldado Ferrugem, serviu o Tiro de Guerra em Catalão no início da década de 1940, tornando-se um dos reservistas convocados para se apresentar nas forças expedicionárias brasileiras.

A guerra acontecia no território europeu, mas agitava os imigrantes estrangeiros também em Catalão. Acabou afetando o cotidiano dos moradores, principalmente italianos e alemães. O fato da Itália ter se unido a Hitler, colocou os italianos sob suspeita onde quer que estivessem.

Em Catalão, muitos estrangeiros foram obrigados a uma mudança de hábitos. Durante os longos anos da guerra, os italianos eram obrigados a se apresentar regularmente à delegacia de polícia local. Foram confeccionadas fichas de frequência que serviam para anotações e monitoramento dos italianos, alemães e japoneses em todo o Brasil.

O medo generalizado entre os imigrantes era a deportação, que facilmente poderia ocorrer, dependendo do andamento dos conflitos. Assim, todos acompanhavam a guerra com interesse e apreensão.

Em setembro de 1942 houve uma cerimônia de recrutamento dos reservistas do Tiro de Guerra em Catalão. Foram convocados os pracinhas Geraldo Martins Teixeira, Aldemar Fernandes Ferrugem, Manoel Camilo Neto, João Kotnik, João Pinto de Melo Filho, Virgílio Caixeta e José Ângelo. Partiram, sem demora, para juntar-se às forças expedicionárias.

Logo depois, foram convocados outros jovens catalanos, que ficaram aguardando embarque no Porto de Santos. Dessa feita, estavam Dolores Ayres Júnior, Expedito Dias, Sabino Gomides, Briand de Deus Passos, Antonio Mariano da Silva, Lauriston Carneiro de Castro, Geraldinho da Costa Canedo, Jofre Rodrigues de Oliveira, José da Costa Canedo e Marcílio Pereira de Amorim.

Catalão enviou 17 soldados para a guerra. Todos retornaram vivos, menos o jovem Aldemar Ferrugem, aliás, o único goiano a ser morto no conflito. Deixou a família e a noiva esperando. Nas suas cartas, o combatente só falava na saudade que sentia e na vontade de voltar logo da guerra.

Nas últimas semanas de vida, o soldado catalano esteve lutando numa trincheira defendendo a Torre di Nerone, uma montanha ao norte da Itália atacada pelos alemães. Dividia o frio na trincheira com Jair Dias Ferreira, soldado paulista de Mogi das Cruzes, que acabou sobrevivendo e relatando o episódio.

Conforme registrou Iuri Rincón Godinho, no livro “Goiânia em Guerra: sangue, sede e escuridão nos anos 40”, Aldemar Ferrugem passou por momentos ruins antes de perder a vida.

Baseado em depoimento do soldado Jair, o autor relata que: “Ferrugem enfrentou, encolhido na trincheira, um frio que chegava a 18 graus negativos, sem contar o vento gelado do inverno europeu. Ele e todos sabiam que ali, o menor descuido seria fatal, pois o local estava cheio de franco-atiradores alemães. No dia 12 de dezembro o militar dividia o frio da trincheira com o soldado Jair Dias Ferreira. O que mais faziam era esperar e temer. Tomavam cuidado para se mover e mal colocavam a cabeça para fora do buraco. Eram 18.30 hs da tarde. Estava escuro. Jair perguntou as horas. No movimento para olhar o relógio, Ferrugem foi visto por um atirador alemão. O tiro foi certeiro.”

A família e a noiva somente receberam um comunicado, no final de 1944, bem lacônico e padrão. O ofício, assinado pelo general Canrobert Pereira da Costa dizia: “Lamento sinceramente ter de vos transmitir essa infausta notícia, mas é oportuno e confortador, principalmente para os parentes mais próximos, saber que o soldado Aldemar Fernandes Ferrugem em terra estrangeira soube honrar as tradições do soldado brasileiro, demonstrando no campo de batalha nobres virtudes morais. Entregue inteiramente ao serviço da pátria, cuja honra defendeu com a própria vida, dar assim um sublime exemplo ao Brasil”.

Em maio de 1946, o Rotary Clube de Catalão prestou homenagem aos pracinhas catalanos que participaram da II Guerra Mundial, erguendo um obelisco na Praça Getúlio Vargas. O monumento traz uma referência ao soldado Ferrugem morto em combate.

Somente em janeiro de 1948, quatro anos depois da morte do soldado, um decreto estadual concedeu pensão mensal a Teodoro Ferrugem, pai do expedicionário Aldemar Fernandes Ferrugem.

A curta história desse jovem não pode ser esquecida pelos seus conterrâneos. Nas ações cívicas de Catalão, o seu nome deveria ser sempre lembrado.

Afinal de contas, o soldado catalano é um herói nacional.

FOTO: Obelisco em homenagem aos expedicionários erguido na Praça Getúlio Vargas pelo Rotary Clube de Catalão. (1946)

FOTO: Início da Rua Ademar Ferrugem no bairro Santo Antônio em Catalão. (Foto: Silvio Lucas)

FOTO: Final da Rua Ademar Ferrugem na antiga Rua da Grota. (Foto: Silvio Lucas)

FOTO: Livro de Iuri Rincón Godinho sobre os expedicionários goianos na II Guerra

FOTO: Soldado catalano Aldemar Ferrugem, morto em combate na Itália

 

(Texto de Luís Estevam)

 

 

 

 

 

 

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