Recordações da Academia Catalana de Letras – Maria Fernandes

A Academia Catalana de Letras recorda que, na metade do século passado existiu em Catalão uma empresária bem sucedida, que trabalhou muito para que o seu negócio prosperasse. Inclusive, o seu estabelecimento ficou famoso até mesmo nas cidades da redondeza de onde vinha numerosa clientela.

Era uma pessoa rígida e severa, mas bastante generosa. Ajudava financeiramente não só os inúmeros parentes como também as mulheres que frequentavam a sua casa e que porventura estivessem em necessidade.

Dizem que era muito bonita. Tanto que, um conhecido industrial de Catalão construiu para ela uma linda casa onde ela montou o seu bordel.

Seu nome era Maria Fernandes, proprietária do mais famoso cabaré de Catalão. Um nome respeitado, que adquiriu confiança e credibilidade nos melhores armazéns e casas comerciais da cidade e que mantinha boas relações com a polícia e a justiça evitando quaisquer complicações ao seu negócio.

Na década de 1950, Catalão tinha uma linha divisória, a céu aberto, que separava dois mundos. O mundo “abaixo dos trilhos” e o mundo “acima dos trilhos”. No primeiro situavam-se as escolas, as igrejas, os órgãos públicos e o grande comércio. O segundo era reservado ao velho cemitério, aos ranchos, casas de adobe e alguns prostíbulos cravados na encosta do Morro das Três Cruzes.

Abaixo dos trilhos, o movimento era grande durante o dia. Mas, à noite, a movimentação se transferia para a zona acima dos trilhos. Principalmente para as cercanias do cemitério desativado onde ficavam os melhores prostíbulos. O grande destaque era o luxuoso bordel da Maria Fernandes no começo da Rua do Fogo, rua bastante conhecida pelas sete casas iguais e enfileiradas.
Sua clientela era formada de pessoas de boa situação financeira e de certo destaque na sociedade. Era um cabaré de alta classe onde a rapaziada recebia as primeiras lições de “educação” sexual. Em uma sociedade rígida, tradicional, a casa de tolerância tinha o seu lugar e a sua atratividade garantidos.

Na verdade, poucos locais antigamente exigiam mais reverência do que o bordel. Fazia parte de um mundo diferente, exótico e indispensável. Chamava a atenção a limpeza do ambiente, o banho várias vezes ao dia, o perfume forte que exalava dos quartos, as belas penteadeiras, as roupas de festa, as rendas, os decotes, as meias e anáguas bem ajustadas. Tudo fornecia um toque místico ao lugar. O incenso dos cabarés impregnava e incendiava o coração da rapaziada.

Mas, era também um lugar de perigo, de tramas, de paixões mentirosas e, às vezes, de amor inesperado e incontrolável.

A vida nos bordéis era uma caixa de surpresas. Ali conviviam bem juntos, o batom e a bala. A forma de um inspirada no formato da outra. Bala e batom. Ambos parecidos e necessários à vida de antigamente.

Vários casos envolveram prostitutas no velho Catalão. Alguns muito dramáticos. Por exemplo, o massacre dos turmeiros, em que nove trabalhadores foram friamente assassinados, começou com a agressão e morte de uma prostituta. Outro caso bem triste foi o assassinato de um fazendeiro de Olhos D’água, além de quatro jagunços, que começou com uma surra “bem dada” a uma prostituta no bordel. A moça tinha um caso com o chefe político local e o fazendeiro não tinha medo de autoridades.

Contudo, Maria Fernandes apareceu bem depois e a sua luxuosa casa tinha proteção da polícia e das autoridades municipais.

A famosa cafetina ganhou muito dinheiro com o seu negócio e construiu um grande patrimônio. De certa feita, já na década de 1960, a sede social de um famoso clube de Catalão esteve em leilão. Maria Fernandes compareceu e quis arremata-lo. O leilão foi imediatamente cancelado.

De outra feita, bem depois, os vereadores de Catalão, em sessão plenária, discutiam o nome dado à Praça Duque de Caxias, sendo que o general nada fez por Catalão. Teve um vereador que propôs a troca do nome para Praça Maria Fernandes. A sessão terminou entre risos e gozações.

Hoje a Praça Duque de Caxias está sendo remodelada. Mas a antiga Rua do Fogo sobrevive quase do.mesmo jeito de antigamente, agora com a denominação de Rua Nassin Agel.
O lugar continua relembrando aos mais velhos o atrativo e gracioso mundo “acima dos trilhos” de antigamente.

FOTO: Antiga rua das Sete Casas. (Foto: Silvio Lucas)

FOTO: Vista da rua e da casa que pertenceu a Maria Fernandes. (Foto: Sílvio Lucas)

FOTO: Esquina com a Praça Duque de Caxias. (Foto: Silvio Lucas)

(Luís Estevam)

 

 

 

 

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