Recordações da Academia Catalana de Letras – O Ribeirão Pirapitinga
A Academia Catalana de Letras recorda, com nostalgia, que Catalão surgiu dentro de um vale muito bonito, no fundo do qual corria bravamente o ribeirão Pirapitinga. Os primeiros moradores devem ter se encantado com o relevo do local, não só pelo córrego, mas também pelas duas elevações estrategicamente colocadas pela natureza, uma ao norte e outra ao sul, batizadas de Morro da Saudade e Morro das Três Cruzes.
Nesse belo cenário, viveram muitas gerações.
Durante mais de dois séculos, ranchos, casas de adobe e sobrados foram surgindo paralelas ao ribeirão formando o povoado, o arraial, a vila e a cidade do Catalão.
O Pirapitinga era o centro de tudo e pelo seu leito escorria a história de cada geração que habitou o vale. E também escorriam, é claro, os rejeitos das indústrias e os dejetos das moradias urbanas.
O manancial era lugar de lavagem de roupas, pescaria, caçadas, lazer da meninada e até passeio de namorados. Antigamente o córrego exibia uma forte correnteza, fluía límpido e cristalino, cheio de peixes. Inclusive, o nome Pirapitinga significa “peixe-branco” em tupi-guarani, hoje uma espécie em extinção, mas que era muito apreciada pelos antigos moradores de Catalão.
Todavia, a proximidade com o córrego acabou trazendo também contratempos e problemas para a comunidade. Primeiro em termos de travessia. Depois, com relação ao meio ambiente.
No decorrer do tempo foram se formando, de um lado e outro do manancial, pequenos núcleos de moradias mais isoladas, exigindo pinguelas e pontes para travessia. Rua da Grota de um lado, Rua do Pio do outro lado. Rua do Comércio de um lado, Rua da Capoeira do outro e assim por diante: Marca-Tempo de um lado e São João do lado oposto.
A iniciativa de construir pinguelas e pontes era dos próprios moradores. Quem edificava uma passagem sobre o córrego sentia-se no direito de cobrar pedágio.
Pontes mesmo tinham poucas. À montante do córrego existia uma, nas imediações do velho mercado, feita com esteios de aroeira, conhecida como Ponte do Miguel Carroceiro (que foi pai do saudoso Prof. Antonio Chaud). Bem abaixo havia uma pinguela e, logo depois, uma pontezinha na rua da cadeia pública que dava acesso ao cemitério municipal.
À jusante do córrego haviam apenas mais duas: uma feita pelo construtor Joaquim de Araújo, na entrada da Rua do Pio e a ponte dos Margon, exclusiva de suas empresas e empregados.
Vários desentendimentos, rixas e discussões aconteceram em função dessas pinguelas e pontes de Catalão. Inclusive, o português Joaquim de Araújo foi morto por causa de uma delas em fevereiro de 1909, com apenas 42 anos de idade.
Para amenizar as desavenças, de certa feita,a colônia sírio-libanesa chegou a erguer uma ponte e entregou, sem cobrança de pedágio, para toda a população.
Interessante que, até hoje os catalanos continuam atados aos destinos do córrego Pirapitinga. A sua canalização tem sido, desde a década de 1970, um desafio para o poder público. Mas, hoje despontam outras questões.
A própria canalização acarreta serviços constantes de monitoramento principalmente no caso das enchentes. Além disso, a expansão da cidade, em termos horizontais, aumenta a impermeabilidade do solo e traz consequências imprevisíveis para o fluxo das águas, tanto nas nascentes como nos mananciais tributários do velho ribeirão. Cabe ao plano diretor da cidade e ao código ambiental a tarefa de sua conservação. O que, por si só, não é nada fácil.
Teoricamente a cidade poderia crescer “ad infinitum” longe do córrego. Mas, boa parte dos moradores ainda teima em conservar o centro residencial e comercial às margens do Pirapitinga. Com certeza, a beleza do vale de antigamente ainda fascina a comunidade. Por isso, a necessidade de sua conservação.
FOTO: Vista antiga do vale de Catalão (1892)
FOTO: Vista parcial do vale e do Morro da Saudade
FOTO: Trajeto do Pirapitinga no vale
FOTO: Velho e novo cenário do córrego
FOTO: Vista de trecho canalizado
Luís Estevam
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