Recordações da Academia Catalana de Letras – Época dos valentões no Catalão

A Academia Catalana de Letras recorda que, muitos valentões, ao longo da história, infernizaram a vida dos moradores de Catalão. Geralmente esses bandidos eram protegidos pelos coronéis ou autoridades, que os utilizavam, quando necessário, como jagunços. Valendo-se da proteção, geralmente o valentão agia sozinho, com violência e desrespeito em todas as desavenças que participava. Somente era destituído do posto quando morto por alguém ainda mais valente.

Nas vendas e armazéns da cidade, nas festas e nas estradas da zona rural, o morador quando topava com um valentão ficava sem graça, temeroso pela família, e tentava sair de fininho. Normalmente levava um safanão ou engolia humilhação. São inúmeras as histórias contadas a respeito. Na primeira metade do século passado, o escritor Cornélio Ramos registrou as estrepolias de dois irmãos em Catalão: o José e o Joaquim Dorneles. Viviam na zona rural do município, porém, comerciantes e moradores da cidade trancavam suas portas apenas com o boato de que, algum deles estava nas proximidades.

Os dois vieram das bandas de Minas Gerais, no início da década de 1930, fugitivos da polícia mineira. José Dorneles, com o apelido Cabeleira, era moreno, alto e de boa aparência. Trabalhava como carreiro e, nas horas vagas, cometia crimes, espancava pessoas mais humildes com um rabo-de-tatu de tala larga, que sempre trazia consigo. Os fortes ele matava, chegando a expulsar de Catalão um soldado da polícia, somente com a jura de morte que lhe fez. Adquiriu, assim, uma fama de valentão e o apelido do famoso cangaceiro Cabeleira que trouxe de Minas Gerais. Era, de fato, destemido e malvado. Certa vez, um fazendeiro da Pedra Branca mandou assassinar o seu confrontante de terras, Raimundo de Paula. O irmão da vítima, João de Paula, dono de uma venda no povoado, contratou o Cabeleira para matar o fazendeiro. Cabeleira negociou o dobro do contrato com o fazendeiro, voltou e friamente matou o vendeiro. Mas, teve um fim trágico. Numa festa de São João, na roça, trocou tiros com dois inimigos, no clarão da fogueira, ferindo um, mas levando uma descarga pelas costas de um participante da festa, sendo chacinado brutalmente ao pé da fogueira.

Os donos da festa ficaram com medo de vingança, por parte do irmão do Cabeleira, e solicitaram ajuda da polícia. O delegado enviou soldados para buscar Joaquim Dorneles, que morava de agregado na fazenda do Sr. Américo Evangelista. Joaquim devia muitos crimes, não negava, sendo também corajoso e disposto. Na verdade, era um homem trabalhador, forte, baixo e troncudo, que tomava conta de um pequeno sítio. Não quis se entregar de maneira alguma. Com a casinha cercada pelos soldados, pediu que deixassem a filha e a mulher saírem, antes do acerto de contas. O chefe da escolta, tenente Gentil, concordou e Joaquim Dorneles conseguiu resistir várias horas a um cerrado tiroteio. Alguns soldados ficaram feridos. Mas, atearam fogo na casa e ele teve que pular uma janela sendo atingido. Era véspera do casamento de sua filha. Após o fuzilamento, os soldados entraram na casa e conseguiram retirar latas de doce, balaios de biscoitos de polvilho, bebidas e passaram a festejar o acontecimento no terreiro… ao redor do cadáver. Memórias de Catalão.

FOTO: Época dos valentões

FOTO: Povo em porta de armazém 

Luís Estevam

 

 

 

 

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