Congo Marujo Azul de Maio
“Balança meu barco balança,
Balança nas ondas do mar ,
e traga o manto para ela
Nossa Senhora eu quero coroar”…
Foi em sua tranquila residência no Bairro Presidente Roosevelt, Uberlândia, que Rubens Aparecido Assunção recebeu O BLOG da Maysa Abrão em dezembro de 2015. É lá que o capitão, que lidera o Terno de Congado Marujo Azul de Maio, vive na companhia dos filhos e da esposa. O apego ao lar é tão grande que é naquele lugar sagrado, onde “Rubens do Azul de Maio” ou “Rubico”, como é carinhosamente conhecido por todos, guarda suas caixas e oferece um projeto social a comunidade.
Em uma entrevista cheia de sorrisos e muita emoção, descobrimos que, Fé! Uma palavra tão pequena, porem gigantesca em sentimento, define o capitão do Marujo Azul de Maio, Rubico. Ele que, juntamente à sua esposa, dona Márcia Helena e ao primo dela, José Renato (descendente direto dos fundadores da Irmandade), fundaram em 1982, o Congo Azul de Maio.
Rubens do Azul de Maio, de uma forma emocionante, revela que já dançava no “Congo Camisa Verde” quando conheceu aquela que seria a companheira de uma vida e que, foi após o casamento que decidiram montar o grupo. “Essa ideia surgiu, porque nos mudamos para o Setor Norte da cidade, onde não existia mais, nenhum grupo. Com isso, montamos e naquele primeiro ano, saímos com um total de 26 pessoas, sendo 7 moças e 19 rapazes. Hoje, quase 35 anos depois, estamos com 374 integrantes que, unidos cantamos para Nossa Senhora do Rosário e São Benedito”, conta o capitão que ainda explica as cores do Congo: azul turquesa e branco, serem derivados das cores da Flor de Maio.
Formado por crianças, jovens e adultos, os instrumentos mais usados pelo Congo Azul de Maio são: caixa, tamborim, reco-reco e pandeiro. Os ritmos que acompanham os cortejos são o Congo, a Embolada, o Rojão e a Marcha. Os ensaios acontecem no “quartel” (morada do capitão) e no dia da Festa de Nossa Senhora do Rosário, o terno atravessa várias ruas da cidade até se concentrar na Praça Cícero Macedo, em frente à Igreja do Rosário.
Porem, quem acredita que o Azul de Maio bate suas caixas apenas no período dos festejos a Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito, está redondamente enganado. O capitão Rubico emocionou toda nossa equipe, ao revelar que o grupo também desenvolve há doze anos, um trabalho social, onde oferece aos jovens da comunidade oportunidade ocupacional e artística. “Oferecemos aula de capoeira, dança de rua, dança de salão, reforço escolar, penteado afro, artesanato e violão. São cursos totalmente gratuitos, porem realizados em parceria com as escolas, os alunos precisam apresentar o boletim escolar, quem tiver nota vermelha não entra, só no ano que vem. Para nós, é algo de grande importância, uma vez que, muitos desses jovens estão em situação de risco e convivendo com a violência.”, diz o Capitão, lembrando ainda que, o projeto visa também a continuidade dos trabalhos do Congo pelas novas gerações.
Homem com imenso orgulho do que faz e por ser devoto de Nossa Senhora do Rosário, o capitão do Congado Marujo Azul de Maio é abençoado pelas “Graças” recebidas pela Virgem do Rosário. E, com lágrimas nos olhos e um sorriso imenso no lábios, Rubico relata algumas. “Em 1984, dois anos após a fundação do terno, desenvolvi uma nefrite, onde inchei do dedão do pé aos fios do cabelo. E, aqui em Uberlândia, os ternos quem realizam a festa, portanto durante o ano é preciso fazer campanhas para arrecadação de dinheiro. E, fiquei debilitado justamente no período de nossas campanhas. Nesta época minha vida era conversar e pedir a “Ela”. “Ela” que, é nossa “Mãe” e que muito me ajudou concedendo sua graça, uma vez que, ainda nos dias da festa, estava restabelecendo. Outra “Graça” foi no inicio de 2014 quando sofri um enfarte, onde fiquei um período afastado, pois era preciso colocar safena. Contudo, após orações e pedidos, com a intercessão de Nossa Senhora do Rosário, não foi mais preciso. Sempre tive muita Fé, porque “Ela” é poderosa, “Ela” é nossa mãe. E mãe é mãe, ou seja, após um pedido “Ela”, pode dizer “agora não tem jeito”, mas “Ela” não esquece. Porem, amanhã “Ela” nos chega e diz “aquilo que me pediu está aqui””.
Para concluir nossa entrevista, questionei ao nobre capitão, o porquê de nunca ter participado com seu grupo do Encontro de Congadas do Catalão. “Não fomos, porque nunca fomos convidados”, conclui Rubico.
TEXTO: Maysa Abrão
FOTOS da Roda de Samba no Quintal do AZM