Blog da Maysa Abrão no 1° encontro dos antigos trabalhadores da Rádio Cultura

Velha Guarda do Rádio realiza grande encontro em Catalão – Por Ivone Rodrigues – Informa Goiás

Dezenas de veteranos que atuaram no rádio catalano nas décadas de 50, 60 e 70 se reúnem para dar vida à época de ouro da radiodifusão

O sucesso de uma geração sonhadora, visionária e apaixonada por rádio foi comemorado durante um grande evento realizado na Fazenda Cachoeirinha (GO-020), onde aconteceu o “1° Encontro de Radialistas dos Veteranos da Rádio Cultura”, emissora pioneira na cidade, que foi ao ar pela primeira vez em 1952, quando eram proprietários Zuca e Miguel Chaud, passando depois para a gestão do Grupo Caiado e vindo a ser adquirida pela Fundação Franciscana Frei João Batista Vogel, que até hoje possui a concessão da mesma.

O evento foi idealizado pelos ex-funcionários Nilson João da Silva e Luiz Carlos Rodrigues, que, sempre que se encontravam, relembravam a grande guarda da rádio que abriu as portas da comunicação na cidade e região.

O encontro começou na manhã do último sábado (31) e durante todo o dia foi regado por deliciosos sabores, música de qualidade, muita emoção, histórias, estórias e risadas de vários tons.

Estiveram presentes o anfitrião Nilson João da Silva, Frei Galdino, José Ribeiro Neto, Benevides de Almeida, Luiz Carlos Rodrigues, Castro Alves, Altamiro dos Santos, Baltazar Reis dos Santos, Mauro Abrão, Fernando Cesar de Oliveira de Azevedo, Altanizio Vaz da Silva e Milton Nery Santana.

                                             FOTO: A união e amizade de uma geração que venceu os anos e os obstáculos com amor pela comunicação através da voz. Na foto, parte dos vetereranos (esq./dir.): Frei Galdino, José, Bené, Luiz Carlos, Castro, Altamiro, Nilson, Baltazar, Mauro e Fernando

“Sempre que nos encontrávamos, eu, o Luiz Carlos e o Frei Galdino, lembrávamos com muito saudosismo daquela época tão mágica que vivemos. Assim, surgiu a ideia de realizarmos esse encontro e estamos encantados por ver, mesmo sendo feriado, quando as famílias se reúnem, um número tão grande de amigos”, conta Nilson João.

Nilson João, que começou a trabalhar na década de 50 na rádio, destaca momentos importantes vividos e alguns que mudaram sua vida para sempre:

“Não tínhamos muito retorno financeiro. Na época dos Chaud era mais um sonho coletivo, não havia estrutura e ninguém para falar ali, buscaram o Valter Lopes Cansado de Deus, que hoje adaptou seu nome para Valter Lopes de Deus, que ele brinca ter tirado o Cansado porque nada tem a ver com ele e muito menos com Deus. O Valter é de Araguari-MG, trabalhava lá e veio cheio de ideias, somou-se com Farid Nahas e os Chaud e, em um cômodo, faziam um barulhão danado, ouvido por todos aqueles que tinham seus fiéis escudeiros: os radinhos de pilha”.

A história da rádio se divide em três etapas de diferentes portadores da concessão. Nilson pôde conhecer essas três etapas.

FOTO: O anfitrião e cerimonialista ao brincar com os amigos que entraram na rádio ‘sapeando’ o trabalho dos demais. Para esses, ele entregou o Troféu Sapo

“Todos nós que entramos para o rádio merecemos o Troféu Sapo, a maioria entrou sapeando e depois foi se profissionalizando. No início, a rádio funcionou em um cômodo da casa do Miguel Chaud, que ficava na Avenida 20 de agosto. Depois, com a compra do Grupo Caiado, ela começou a funcionar em duas salas da Escola Paroquial São Bernardino de Siena (onde hoje é o Colégio APROV), na Avenida João XXIII. Posteriormente, com a compra da emissora pelo Grupo Franciscano, uma linda e grande sede foi construída, também na Avenida João XXIII, onde funciona até hoje. A rádio foi extremamente generosa conosco, mais que o salário, mais que o status e tudo que veio através de nossa atuação. Eu e muitos aqui também recebemos deste trabalho as nossas maravilhosas esposas. Conheci a Maria (Alves) porque os pais dela trabalhavam na escola e ela é que ia me servir o cafezinho. Entre um cafezinho e outro, surgiu esse amor que dura tantos anos, cheio de cumplicidade e ternura. Ela ia me levar a garrafa de café, entregava pela janela e falava: ‘Mão fria, Nilson!’. Eu, apaixonado, dizia: ‘Coração quente!’”.

FOTO: O bom humor, somado à paixão da mocidade e ao amor da maturidade, fez de Nilson João e Maria Alves um casal vencedor em todos os sentidos. Hoje colhem a verdadeira riqueza dessa cumplicidade: a família, a paz e o aconchego de um verdadeiro lar

FOTO: Os veteranos com sua maior herança do rádio: suas maravilhosas esposas e filhos

Um dos nomes mais citados durante todo o evento foi de Altamiro dos Santos, 74 anos, que foi diretor da emissora por mais de uma década, iniciando em 1962.

FOTO: Altamiro dos Santos dirigiu o caminho de muitas vidas rumo ao sucesso

Altamiro relembra sua trajetória: “Eu trabalhava na Rádio Santana de Anápolis e fui convidado para dirigir a Rádio Cultura. Cheguei aqui e não tinha nada de estrutura, nem física, nem operacional, mas tinha um material humano de altíssima qualidade. E rádio, principalmente naquela época, era 90% material humano porque o som não era de muita qualidade, tínhamos poucas ferramentas, as quais foram surgindo e facilitando durante os anos”.

E acrescenta: “A Rádio Cultura foi um marco, não só na comunicação, mas para Catalão, que ganhou vez e voz através do rádio, além das possibilidades que criou por meio da promoção dos comerciantes, empresários e dos profissionais que foram ganhando credibilidade e status muito positivos na cidade. Tenho orgulho da minha história como profissional do rádio de Catalão”.

Sobre as histórias inesquecíveis, ele destaca: “Naquela época, cada dia acontecia uma coisa diferente. São inúmeras as que guardo no coração e que hoje foram relembradas por meus amigos, isso foi o que sempre fomos, eu era diretor, mas era também locutor, sonoplasta e até fazíamos café e a limpeza se preciso fosse. Essa é a formula que gerou nossa união, que ultrapassa décadas e que fez com que cada um tivesse um lugar especial”.

Castro Alves, um ouvidorense ainda jovem, também começou toda sua história profissional nos microfones da Cultura (naquela época AM). Hoje, aos 73 anos, com um currículo respeitado e admirado, inclusive internacionalmente como radialista, jornalista, publicitário, advogado, professor, tradutor e corretor de imóveis, faz um resumo de sua trajetória no rádio:

FOTO: Castro Alves: a polivalência de agregar conhecimento à vida sem deixá-la pesada com isso

“Vim para Catalão quando o Grupo Franciscano adquiriu a rádio, em 1962. Nessa época, eu era o faz-tudo: locutor, sonoplasta e até subia na antena e no transmissor; estragava e a gente saía com ele em um jipe descoberto (risos) de aço para levá-lo ao conserto, em Anápolis. Era a vontade de ajudar que nos impulsionava a seguir nesse mundo mágico do rádio. Lembro que ficávamos ansiosos porque demorava uns três, quatros dias e durante esse tempo ficávamos fora do ar, o que era uma tristeza para nós que amávamos o que fazíamos”.

A emissora abriu portas que o veterano faz questão de destacar: “Além da rádio, fui lecionar e atuava nos colégios Anchieta, Mãe de Deus e Colégio Estadual João Netto de Campos. Entre um afazer e outro, ainda montamos a Banda “Os Inocentes”, fundada pelo João Martins. A gente tocava em bailes de toda cidade e região, era um sucesso ver a turma vibrando conosco quando cantávamos belas canções como “Era um garoto que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones”. Depois disso, em meados de 70, voltei para Anápolis, onde me aperfeiçoei, me graduei em várias outras especialidades, como corretor de imóveis, jornalista, professor e tradutor. Pude praticar e aperfeiçoar o inglês morando nos Estados Unidos. Como publicitário, tenho uma das maiores agências do ramo da cidade e da região, mas tudo começou no rádio, que dá lições espetaculares a qualquer ser humano que tenha paixão em fazer rádio”.

Histórias pitorescas fizeram o trabalho ser mais agradável e feliz. Dentre elas, ele tem as suas inesquecíveis daquela época:

“Eu fazia um programa que se chamava Despertador Sertanejo. Começava às 6h da manhã, tínhamos o hábito de fornecer as horas, uma obrigação do rádio até nos dias atuais, sempre através de um relógio grande que ficava na parede. Eu, ainda meio sonolento do recente despertar, anunciei: ‘No nosso programa agora são… Quem foi o miserável filho da mãe que tirou esse relógio daqui? (risos ao relembrar). Já já a gente acha o relógio e anuncio a vocês a hora certa’. E tocamos o barco até retornarem com o relógio. Também foi peculiar um anúncio que a mim chegou para ler: Eu fazia a propaganda do Comercial Mesquita, em que dizia: ‘No Comercial Mesquita, você encontra tudo para a sua cozinha e fazenda: açúcar, café, feijão, utensílios domésticos e arame farpado’ (mais risos), coisas inusitadas e que ficam registradas para sempre na lembrança”.

O ditado de quem sabe faz a hora, não espera acontecer foi vivenciado por Luiz Carlos Rodrigues, um jovem de família humilde, com poucos recursos financeiros, mas de sonhos grandiosos e uma vontade maior ainda, que fez um simples trabalhador braçal se tornar um nome reconhecido no Estado e hoje no Brasil por sua atuação profissional.

FOTO: Luiz Carlos Rodrigues: o sonhador determinado que foi além de seus sonhos por investir e acreditar que tudo é possível ao que crê

“Como todo interiorano que a família não tinha muitas condições materiais, trabalhei em lavoura de cana e era boia-fria na Cerâmica de Catalão, mas também um apaixonado por rádio. Um dia, me deu um estalo e fui falar com seu Altamiro, diretor da rádio, pedi se poderia fazer um teste e ele permitiu. Saí desacreditado, pois me deram um monte de textos institucionais e comerciais para ler e pronto, agradeceram. Mas, dias depois, consegui entrar na Rádio Cultura com carteira assinada e tudo. Era um sonho realizado”.

As emissoras passaram por muitas transformações, algumas para melhores e outras acredita-se que nem tanto:

“Com todas as transformações diziam que, com o advento da televisão, o rádio morreria, mas ele continua cada vez mais forte, evoluindo mais e ultrapassando barreiras. Com o advento da internet, o rádio morreria e o rádio continua aí, cada dia mais forte, cada vez evoluindo mais e ultrapassando barreiras. Essa é a verdadeira mágica que todos falam do rádio. Hoje tem muita tecnologia: o som ficou melhor, poucas rádios tinham o som bom, mas a gente não fazia qualquer coisa, não falava qualquer coisa e não tocava qualquer coisa. Dava-se muito valor às vozes aveludadas e ficávamos comentando sobre os potenciais de cada voz. A ferramenta principal do radialista, depois da voz, o microfone, é sempre assim: se a pessoa tem uma voz ruim, no microfone fica pior e temos visto muito isso atualmente. Em contrapartida, se você tem a voz boa, o microfone te favorece ainda mais. Voz padrão é artigo de luxo no mercado. Quem tem, tem ouro nas mãos se somado a todos os demais atributos que exige uma emissora de qualidade”.

A história de sucesso foi consequência daquele sonho do jovem que acreditou que poderia ser o que quisesse.

“Escolha o que gosta e você nunca mais vai trabalhar”, essa é a frase que Rodrigues define seu sentimento sobre sua profissão. Saiu de Catalão para trabalhar em outras rádios e acabou virando uma referência de audiência para a capital e todo Estado.

“Fui para a Rádio Clube e comecei, despretensiosamente, dar o meu melhor. Ganhei um horário importante que aguçou a concorrência e fez com que eu recebesse um convite da RBC (Rádio Brasil Central) e assim sempre em uma crescente, fazendo o que gosto e aperfeiçoando. Além de radialista, sou jornalista e me especializei em Agronegócios, um campo que me fascina. Hoje, dirijo diversos portais de agronegócios, como o Sind Carne e o Sind Leite (leia-se Parmalat, Nestlé, Piracanjuba, entre outros). Todo esse mérito de reconhecimento profissional e financeiro vem de escolher o que queremos, mas também o que gostamos de fazer na vida. Gosto do que faço, faço com prazer e extrema dedicação, essa é a fórmula”.

Fernando Cesar de Oliveira de Azevedo veio acompanhando o pai que era juiz de Direito e havia sido transferido para Catalão.

FOTO: Fernando: a voz que encantou corações e ficou encantado pela doçura de uma linda fã

“Fiquei muito amigo de todos que trabalhavam na emissora. Foi na Cultura a minha primeira assinatura na carteira profissional. O Altamiro é realmente uma pessoa incrível! Eu não conseguia assimilar a palavra cultura, falava ‘cutura’, então, ele me passava um monte de exercícios para eu escrever e ler e, dessa forma, não saísse nada errado no ar”.

Entre as histórias inesquecíveis, está a junção de amores e paixões pela profissão que se estenderam para toda a vida, através de sua esposa e companheira, numa união de quase 50 anos.

“Naquela época eu ganhava um salário mínimo, mas consegui juntar dinheiro para comprar um radinho charmoso para presentear a Gracinha (Cortopassi), que era minha ouvinte fiel, me ouvia toda noite. E assim aconteceu, abriu caminho para eu conseguir conquistá-la como minha namorada, que depois se tornou minha esposa e já estamos há 47 anos vivendo esse amor que começou através das ondas do rádio. Essa é a mais especial de muitas situações especiais e generosas que o rádio me proporcionou. Trago essa gratidão registrada na minha carteira de trabalho e no meu coração”, afirma.

FOTO: O que começou como amizade entre ouvinte e locutor, teve como cupido um rádio que uniu, com muito amor, Fernando e Gracinha, disseminando muitos frutos desta grande e linda união

Milton Nery Santana também apreciava o contato com a emissora e foi convidado para fazer parte da equipe. Sua voz encantadora, o padrão aveludado, quase obrigatório naquela época, lhe deu ascensão e prestígio, principalmente na capital, onde trabalhou como locutor, depois vindo a dirigir algumas emissoras.

FOTO: Veterano Milton Nery: o locutor que traz na voz a força do bem

“A Rádio Cultura era um celeiro de mão de obra qualificada para Goiânia e Anápolis. Chegávamos lá e pela qualidade que era exigida na Rádio Cultura, tínhamos ótimas oportunidades. Tive a oportunidade de atuar como locutor de várias emissoras de rádio e TV. Também pude trabalhar na direção. Essa vida me proporcionou muita estabilidade financeira para cuidar da minha família com toda dignidade que merecia, mas me privou de algumas coisas, como mais tempo ao lado deles. O que tento fazer agora que estou desligado é priorizar a vida e os cuidados com minha esposa Rosária (Garcia), meus filhos e comigo”.

FOTO: As décadas de amor e paixão fizeram de Milton e Rosária mais que marido e mulher, os fizeram cúmplices de toda uma vida (FOTO – www.informagoias.com.br)

Milton foi escolhido por amigos para declamar um poema premiado internacionalmente, do poeta Júlio Pinto de Melo.

“Em outros momentos do passado havia declamado partes desse valioso e sábio conteúdo poético, mas declamá-lo em sua totalidade para uma plateia como essa, de pessoas tão concentradas e importantes, foi muito especial”, comenta.

Entre as histórias especiais do amor pelo rádio, Milton salienta:

“Sempre fui apaixonado por rádio. Uma vez recebi uma proposta para fazer um teste e fomos para Brasília-DF, eu e um amigo que encarava todas essas peripécias comigo: o Olívio Vieira. Tivemos que ficar na casa de um parente dele. Nos deram uma cama de solteiro e dormia um para o pé e o outro para a cabeceira; o dinheiro era regrado. No dia de vir embora, com o estômago lá nas costas, passamos em uma lanchonete, olhamos o cardápio e vimos que tinha um negócio que a gente não conhecia, mas era o mais barato e dava para comprar dois. A gente, torcendo pra ser um arroz com ovo ou um salgado caprichado, mas a garçonete nos entrega dois copos de 300 ml de milk shake. Olhamos um para a cara do outro e quase não dávamos conta de puxar no canudinho de tamanha raiva (muitos risos)”.

Milton enaltece ainda o companheirismo de sempre entre o grupo:

“A responsabilidade do S. Altamiro e a vontade dele em ajudar a todos nos motivava. Ali um segurava o rojão do outro, éramos amigos e companheiros na profissão e na vida”.

Após se aposentar, Milton volta a Catalão e agora como diretor geral da Rádio Cultura. Desta nova etapa, se emociona ao relembrar:

“Um dos momentos mais marcantes na Rádio Cultura foi a criação e implantação do Programa “A Força do Bem”, pois até então, na história da emissora, não tinha um programa que, além de buscar evangelizar os ouvintes, servia como ponte aos mais carentes, ajudando realmente a quem precisava, sem nenhum vínculo ou pretensões políticas. O sucesso e a repercussão foi tanta que a fórmula foi copiada pela Rádio São Francisco, de Anápolis. Aqueles momentos de alegria e emoção fizeram do programa o mais ouvido nas tardes do rádio em Catalão. Eram chuvas de ligações que comprovavam essa audiência impressionante. Entre tantos casos, um me marcou profundamente, no qual uma mãe, desesperada porque havia acabado a medicação para seu filho diabético e não tinha como comprar, nos ligou. Nós, eu e a Ivone Rodrigues, que era minha repórter, levamos o problema ao ar e conseguimos, durante o programa, a medicação suficiente para aquela criança. Como em muitos outros casos, não consegui conter a emoção e lágrimas de felicidade eram divididas de um lado e outro do rádio. Era um programa de solidariedade que buscava unicamente ajudar os mais necessitados, sem pedir nada em troca, apenas amor e confiança”.

Frei José Galdino, hoje com 79 anos, relembra sua história com Catalão e com a Rádio Cultura de 68 a 78, uma década à frente da emissora como diretor, inclusive trabalhando também como locutor:

FOTO: O veterano Frei Galdino, o diretor da Paz e do Bem

“Quando cheguei aqui, vi que a população precisava de apoio. Coloquei na minha cabeça que a rádio poderia contribuir para isso e comecei a pedir a equipe para se envolver com a população, com ternura, responsabilidade e muita alegria. Usei seguimentos que chamo de artérias: formação e informação; lazer; cuidar da qualidade do som que as pessoas recebiam e a linguagem dos profissionais, depois nos cercar de toda informação que fosse interessante e proporcionar momentos de diversão para os ouvintes”.

O sempre bem humorado e divertido líder religioso Frei Galdino tem boa parte de sua vida dedicada à missão de evangelizar. Em dezembro do último ano, completou seu Jubileu de Ouro: 50 anos de evangelização. Com seu jeito irreverente, conta que a longevidade tem a ver com um acordo feito com um grandão lá de cima. “Não brinco em serviço, por isso fiz um pedido: São Pedro, por favor, fala para o nosso Senhor que enquanto em Goiás tiver pequi que Ele me deixe por aqui (risos)”.

Altanizio Vaz da Silva foi operador de áudio por seis anos na década de 60 e destaca:

“Tive a oportunidade de trabalhar com muita gente boa. Naquela época, as coisas eram muito difíceis e a gente ganhava muito mal, mas valeu a pena, principalmente porque a Rádio Cultura me deu a oportunidade de aprender, me aperfeiçoar e ter oportunidade na Rádio Clube, onde trabalhei até me aposentar”.

Uma história marcante, segundo ele, envolve adrenalina e muitos risos:

“Aconteceu tanta coisa engraçada e que a gente não esquece. A rádio funcionava nas salas da Escola Paroquial, então, o Valcir Silvério e o Mauricio de Oliveira chegavam armados, brincando, dando tiro no teto, sempre tentando acertar os mesmos buracos. Um dia, o diretor, S. Altamiro, chegou e perguntou o que eram aqueles buracos no teto e eles, muito sérios, responderam: ‘deve ser besouros, S. Altamiro (muitos risos)’”.

Os locutores eram muito respeitados pela população e muito cobiçados pelas mocinhas da cidade, naquela época com, no máximo, 20 mil habitantes.

José Ribeiro Neto era um dos locutores de grande popularidade, apresentando um programa de variedade.

FOTO: José Ribeiro Neto: o pacificador, galanteador e condutor dos grandes sucessos das ondas do rádio

“O programa se chamava “As Favoritas do Público” e naquela época já tinha telefone, mas era raro, a fonte maior de contato eram as cartas. Tinham as caixas escrito o nome de cada programa e a gente media a audiência de cada programa por ali, ficava todo cheio quando via a caixa lotada. E a minha sempre estava (risos) com os pedidos e os toques que eram para ser mandados”.

Entre as histórias inesquecíveis, Ribeiro destaca duas: “O Fernando e o Mauro eram terríveis! Eu estava fazendo o programa e eles chegavam e quebravam discos velhos na minha cabeça tentando me desconsertar, eu centrado, tentando fazer o programa e eles morrendo de rir. O Nilson João era outro que gostava de aprontar, jogava água no piso para todo mundo ficar patinando, mas um dia seu Altamiro apareceu de surpresa e me disse: ‘O que é isso, José Ribeiro? Você é o responsável aqui hoje, que água é essa espalhada aqui?’ Não sei de onde veio a resposta tão rápida e falei: ‘Uns cachorros que aprenderam entrar aqui e urinar no chão, mas vou limpar agora (muitas gargalhadas)’. Eu acobertava tudo de errado que essa turma fazia. Era muito especial”.

 

Mauro Abrão, hoje com 77 anos, recorda quando aos 20 anos começou a trabalhar, em 1970, como locutor e sonoplasta:

“Era uma época muito sofrida em vários setores, como o financeiro, que não era dos melhores, mas o bom é que era tudo divertido. A gente tinha amigos de verdade, daqueles com os quais podíamos contar e que são para a vida toda, como prova esse encontro de todos nós aqui hoje”.

 

Benevides de Almeida, popular Bené, é um dos funcionários mais antigos que atuou na emissora. Divertido, humano, extremamente comunicativo e portador de uma grande luz, não poderia ter ocupado outra função na vida. Sua história se difunde com a da Rádio Cultura e com a de todos os amigos que trabalharam na emissora na mesma época que ele. Muitos fatos são contados por ele com orgulho.

FOTO: Benevides Almeida: sabedoria somada ao bom humor e competência que resultaram em uma carreira longa e promissora

“Acredito que eu seja, depois do Valter Cansado, o funcionário mais velho da Rádio Cultura que esteja vivo. Quando cheguei, depois da compra da emissora pelo Grupo Caiado, no início da década de 50, o diretor era o Farid Nahas. Ele era corretíssimo, mas muito divertido. Um dia, cheguei no estúdio e lá tinha um enorme olho pintado, era muito feia aquela pintura e falei: ‘Farid, qual o significado desse olho?’. Ele respondeu: ‘É que não tem como eu ficar aqui o tempo todo, quando eu não estiver, o olho vai tomar conta e ver tudo pra mim (muitos risos)’”.

Entre as várias recordações que guarda com ternura e carinho daquela época tão valiosa estão histórias como a seguinte:

“O Altamiro, para fazer um vale, era difícil. Um dia, cheguei pra ele e falei: ‘Altamiro, o gás lá de casa acabou e eu preciso urgente de um’. Ele coçou a cabeça e arrumou o vale, mas dias depois esqueci que a desculpa que eu tinha dado era o gás e pedi de novo: ‘Altamiro, teria como você fazer uma vale pra mim porque o gás lá de casa acabou?’. Aí, ele olhou nos meus olhos e falou: ‘Escuta, você comprou um restaurante? Porque não faz uma semana que eu te fiz um vale pelo mesmo motivo (risos)’. Naquela época, o dinheiro era pouco, mas a amizade e a cumplicidade eram grandes e valiosíssimas”.

Baltazar Reis dos Santos também integrou a competente equipe da Rádio Cultura.

FOTO: Baltazar dos Reis Santos: com o dom da comunicação fácil, fez sua estrada de sucesso galgada na luz de sua voz e profissão

 

Homenagens

Muitos foram os homenageados que não puderam comparecer por motivos de saúde ou outros fatores de força maior. Os que já partiram desta vida também receberam honras especiais. Entre os que se foram, mas que ainda vivem por sua grandeza na história da cidade, estão Wilson Naves, Batuíra Borges e Farid Nahas.

Farid Nahas, que faleceu em 2003, foi representado pelos filhos Vinícius e Paulo Nahas e por sua nora, que se emocionaram com vários relatos a ele direcionados.

O filho de Farid, Vinícius Nahas, foi o porta-voz da família. Emocionado, destaca o orgulho que tinha pelas atividades e posturas que o pai sempre teve frente à vida e às pessoas:

“Meu pai queria bem e respeitava todo mundo. Uma das pessoas que mais frequentava nossa casa era o Mola-faca, mas meu pai não o chamava assim, era Sebastião, Tião. Ele estimava as pessoas pela essência, não pela classe social, religião ou qualquer coisa do tipo. Todo mundo era tratado por ele com igualdade e muito respeito”.

FOTO: Farid Nahas com o neto Thiago Nahas

Sobre as lições de civilidade e lealdade, Nahas destaca a participação do pai em uma disputa eleitoral:

“Em 1982, meu pai foi convidado pelo Iris Rezende Machado para ser prefeito pelo MDB 2. Naquela época era assim, MDB 1, 2 e 3 e assim todos os partidos. O Haley Margon era o candidato do MDB 1 e o meu pai foi para auxiliá-lo no 2. Passadas as eleições, o Haley ganhou e o meu pai, que tinha entrado só para ajudar, acabou sendo muito bem votado. O Iris, em consideração e agradecimento, o chamou no Palácio para perguntar qual era o órgão que ele queria gerir e de quais cargos ele precisava. Eu estava com ele no gabinete e, sereno, respondeu que não havia entrado para ganhar cargos, que era para ajudar o partido, que queria continuar na sua cidade, onde já tinha um emprego. Foi assim até sua partida, vivendo aqui em Catalão e trabalhando na Rádio Cultura. Meu pai era um homem que prezava lealdade e companheirismo ao que se propusesse fazer na vida”.

A dedicação e o amor incondicional que Nahas dedicava ao rádio nem sempre eram compreendidos, mas foram elucidados através do carinho ao partir. “Cresci vendo o carinho e a dedicação do meu pai para com o rádio, mas minha família e eu não entendíamos bem o porquê de tanta dedicação. Começamos a entender de verdade no dia em que ele faleceu e a rádio interrompeu toda a programação, só tocou a música instrumental da saudade, anunciando de tempo em tempo o seu falecimento. No dia seguinte, durante todo o dia e noite, inúmeras pessoas ligaram e participaram dos programas elogiando meu pai. Aquele sentimento pelo trabalho e seus ouvintes era recíproco e ele sabia e sentia de uma forma especial toda essa troca de sentimentos”, afirma o filho.

Uma história engraçada envolvendo o pai, mostra também a face do Farid família e conciliador, que gostava de harmonizar tudo ao seu redor.

“O Benevides se apaixonou pela minha tia Manira e combinou de fugir com ela. Eles combinaram de se encontrar na Estação de Goiandira. Meu avô descobriu e mandou dois homens irem lá matá-lo. Meu pai entrou no meio da história, foi lá, buscou os dois e convenceu meu avô que menos transtorno que matar era casar os dois. E como teve que ser as pressas, meu pai emprestou o terno para o Bené (risos). Ele era assim, achava uma solução positiva para tudo”, relembra o filho.

 

No vídeo abaixo, um áudio com a voz do ex locutor da Rádio Cultura do Catalão, Batuíra Borges (in memoriam). 

FOTO: Batuíra Borges de Souza

 

Preservando a história

Com o intuito de preservar a história do rádio catalano, um acervo está sendo zelado por Nilson João e Maria Alves, em sua propriedade na zona rural de Catalão.

O objetivo de Nilson é montar um museu que possa contar toda essa trajetória do rádio catalano.

“Há muitos anos, sonho em fazer esse museu porque não é só a história do rádio, envolve uma época em que o rádio se fazia presente na maioria das histórias. Ao saber que a Rádio Cultura iria se desfazer de seu acervo físico, fiquei muito honrado por receber todo o acervo com dezenas de milhares de discos, CDs e fitas. Tenho certeza que, com a ajuda desses nobres amigos e de todos os amantes do rádio, em breve teremos uma edificação específica para que todos tenham acesso e fique para posteridade”.

 

Aplausos da Nova Guarda

Convidado a participar do encontro representando a Nova Guarda do Rádio, o radialista, ator, humorista e comediante Ricardo Peres, que atua na Rádio Nova Liberdade, pontua a honra de estar entre tantas autoridades na sua área:

“Estou muito emocionado e lisonjeado de estar nessa verdadeira faculdade do rádio da nossa cidade. Todos vocês são responsáveis pela nossa história de hoje, por, há 50, 40 anos, terem aberto as portas do rádio à nossa cidade de uma forma tão comprometida. E o retorno não poderia ser outro: o sucesso e o reconhecimento de toda uma comunidade pelo trabalho desempenhado com louvor. Vocês são verdadeiros doutores da nossa profissão, estar aqui de frente a todos e apresentar meu trabalho é como apresentar um TCC na universidade, tamanha responsabilidade”.

A fotógrafa, repórter e blogueira especializada em cultura, Maysa Abrão (Blog Maysa Abrão), foi acompanhar seu padrinho Benevides ao evento. Encantada com tantas personalidade do ramo, ela comenta:

“Eu, que tenho meu blog e levo a cultura da nossa cidade e região para todo o Brasil, fico encantada com tanta cultura reunida. É um orgulho estar aqui com tanta gente importante da história da nossa cidade. Me emocionei ao rever meu padrinho Bené e ao participar desse evento, uma vez que meu pai (o músico renomado João Abrão – in memorian) era um grande apaixonado pela música e pelo rádio, tendo acompanhado a trajetória de muitos de vocês”.

O jornalista Leandro Fernandes foi acompanhando o sogro José Ribeiro. Ele também fala de sua estima pelo rádio e em conhecer tantos ícones catalanos da radiodifusão:

“Antes de trabalhar na televisão, trabalhei em rádio. Minha primeira escola da comunicação foi o rádio. Vim para Catalão, me apaixonei pela minha esposa e tive a grata alegria de saber que meu sogro, que tanto respeito e admiro, também foi radialista. Esse encontro e todas as histórias relatadas mostram o valor de profissionais que, realmente, fizeram do ofício uma missão de transmitir com sentimentos e verdades”.

 

A radialista Ivone Rodrigues também foi homenageada.

 

Segunda edição

Os veteranos já anunciaram quando acontecerá a segunda edição:

“Estamos organizando e vamos fazer uma edição especial em setembro, mês em que se comemora o Dia do Radialista. Estamos analisando a data próxima ao dia 21, que é o dia oficial, e o local onde será realizado”, informa Luiz Carlos.

FOTO: Luiz Carlos adiantou à nossa reportagem que a 2ª edição do evento já está sendo planejada