Catalão 157 anos – “João Netto de Campos por Deise Pasquarelli”
Pioneiros não morrem. A raiz que João Netto de Campos lançou em terras catalanas sobrevive – nos filhos, sobrinhos, parentes e nettos naturais. Sobrevive também naqueles nascidos do sangue político que corre nas veias. Da admiração pela história daquele que a escreveu e atuou com bravura, deixando memórias e conquistas como herança, comum aos vencedores. (Deise Pasquarelli)
“Povo meu, gente minha”…
Autodidata, Fazendeiro e Agropecuarista, filho de Mário de Cerqueira Netto (Inhozico) e Juvenília de Campos Netto, casou-se com Maria Isabel de Mendonça Netto, com quem constituiu família – Mário Mendonça Netto (Deputado Estadual, 1955-1959, in memorian), Yedda, Álvaro (in memorian) e Marly.
Iniciou a vida política aos 35 anos. Foi Prefeito Municipal de Catalão (PSB – 1948-1950); Deputado Estadual (PSP – 2.ª Legislatura – 1951-1955); Deputado Federal (suplente do PSP – 1955-1958); Deputado Estadual (PDC-MTR – 5.ª Legislatura, 1963-1967); novamente Prefeito Municipal de Catalão (MDB, 1970-1972); Deputado Estadual (MDB – 8.ª Legislatura 1975-1979); Vice-Prefeito Municipal de Catalão (PMDB, 1983-1988); Vereador – Câmara Municipal de Catalão (PL, 1989-1992); Suplente de Vereador – Câmara Municipal de Catalão ( PSDB – 1992-1996).
Em 03 de novembro de 1960 foi aprovado um projeto de lei criando o 1º ginásio estadual da cidade de Catalão por iniciativa do então prefeito Sr. João Netto de Campos.
Em 19 de fevereiro de 1961 é publicado no diário oficial 8495 uma portaria de 12 de fevereiro oficializando o nome da escola : Ginásio Estadual João Netto de Campos e designando o senhor Aguinaldo de Campos Netto para diretor da nova escola e o senhor Francisco Netto de Campos para secretário .
Líder expressivo, João Netto de Campos – que cursou até o quinto ano primário – faleceu em 13 de novembro de 1996 em Catalão, deixando as melhores lições de vida aos que o conheceram ou que até hoje comentam seu legado e participação na vida liberta dos catalanos.
Uma tarde diferenciada.
Ao lado da simpática Yedda de Mendonça Netto (filha de João Netto) e Mauro Campos Netto (sobrinho), uma conversa descontraída revelou a importância desta família genuinamente goiana e catalana, detentora indiscutível de parte da história da cidade – antes e depois da emancipação.
No casarão que está na família desde 1920 onde hoje reside Mauro Campos Netto, relembramos as páginas da saga de João Netto de Campos, nascido para ser pioneiro e desbravador.
O homem público
Mauro Campos Netto, conta detalhadamente os passos largos do tio, pouco antes de ingressar na vida pública. Segundo Mauro, o então comerciante e fazendeiro, logo nos pós-guerra – idos de 1945-, pretendia estreitar laços com países que haviam se aliado naquele período conturbado.
Como criador de gado Zebu, enveredou numa aventura sem igual ao embarcar num navio petroleiro (porto de Santos), cerca de 300 cabeças do Zebu, com destino México. “Depois da viagem, o gado ficou numa quarentena por conta da prevenção de possíveis contágios , como febre aftosa. Mas, na verdade, o que acontecia ali era um embargo, pois os Estados Unidos não queriam o gado brasileiro no México. Resumindo…Depois de 120 dias dachamada quarentena, o gado foi vendido (não foi negociado como era pretendido) e o país ordenou que cada proprietário matasse e enterrasse os animais, pondo fim a uma história que certamente teria rendido frutos”, conta Mauro ao pontuar detalhes desta ordem para extermínio dos animais.
Em 1946, João Netto volta do México para Catalão. “O comando da cidade estava com a família dos Sampaio. Quando ‘caiu’ Getúlio Vargas e saiu Pedro Ludovido (interventor do estado de Goiás), marcou-se a primeira eleição, após a constituinte Nacional, Estadual até a consolidação Municipal. Nesta época, nossa cidade abrangia outros locais, hoje emancipados aqui na região”, relata Mauro.
“Um abaixo-assinado pedia a candidatura de João Netto de Campos, já com significativa expressão política e laços que o levaram à filiação no PSB – Partido Socialista Brasileiro”, comentou o sobrinho do ilustre João.
Eleito, João Netto de Campos equipou a prefeitura – pela primeira vez – com máquinas para abertura e manutenção de estradas, bem como para utilização na agricultura. Também foi responsável pela implantação de um posto agropecuário.
Dedicou-se exaustivamente aos setores agricultura e pecuária, que fundamentavam a economia no período. A energia elétrica, antes precária e de iniciativa privada, passou a ter outra empresa concessionária para que atendesse todas as demandas da comunidade que crescia, com cerca de 10 a 15 mil habitantes naquela época.
Numa linha do tempo política gloriosa, foi eleito deputado estadual em 1950; apoiou e elegeu Ciro Netto prefeito de Catalão no mesmo ano. Novas eleições em 1954, apoiou e elegeu Antonio Chaud, sendo ele primeiro suplente no mandato a Deputado Federal ao mesmo tempo que seu filho – Mauro Mendonça Netto era eleito deputado estadual por Goiás.
Em 1958, João Netto articulou a candidatura que elegeu Jacy de Campos Netto prefeito em Catalão e Mário Netto, suplente deputado estadual.
FOTO: O Deputado Estadual João Netto de Campos Recebe o vice Governador de São Paulo Dr. Erlindo Salzano.
Passo a passo a família trilhava o caminho político, nascido há tempos… Em 1859, nas raízes catalanas com o avô João Cerqueira Netto, primeiro “prefeito” após a emancipação da cidade.
Em 1960 não concorreu, mas elegeu seu antigo adversário Ozark Vieira Leite, cassado em 64, quando assumiria Paulo Hummel, até 65. Em 1962, João Netto foi eleito deputado estadual.
O golpe de 64 foi o divisor de águas, pois 1965 trazia João Netto como oposição; Leovil Evangelista era eleito prefeito e o quarto ano deste mandato foi assumido pelo então vice, Bento Rodrigues de Paula.
1969 – João Netto de Campos é eleito pelo MDB e 1972 traz a oposição de volta à prefeitura catalana, por Sílvio Paschoal.
Já estamos em 1974 e João Netto tem seu último mandato como Deputado Estadual. Nas idas e vindas políticas, a família Netto esteve presente em cada campanha, cada compromisso político, eleitos ou nos bastidores.
Um fato interessante marca as eleições de 1988, quando “os primos” Netto lançam candidaturas separadas e concorrem nas eleições para prefeito da cidade: Mauro Campos Netto (nosso entrevistado) pelo PL; João Enéas Bretas Netto (PT); Agnaldo Mesquita (PFL) e Mauro Netto Faiad (PMDB). Agnaldo saiu vencedor.
Já em 1989, Mauro Campos Netto funda o PSBD em Goiás. Chegamos a 1994, quando João Netto de Campos candidatava-se ao pleito para vereador, mas não foi eleito.
A vida pública não terminaria com sua morte, aos 13 dias de novembro de 1996. Homens feitos deste barro catalano, que molda os fortes, fica nas mãos do primeiro oleiro e seguem vida afora, sempre de mão em mão, formando novas histórias boas de ouvir e contar.
Feitos
João Netto de Campos, mesmo fora da vida política, articulava pela cidade. Colaborou para a criação da primeira escola estadual, que leva seu nome como homenagem; articulou a vinda do BEG para Catalão; de uma residência do DERGO (Departamento de Estradas e Rodagens), hoje conhecida nossa por AGETOP. Vínculos fortes e parceiros em outros estados eram seu diferencial (entre tantos outros).
Raízes
Desde João Cerqueira Netto (seu avô) em 1859, chegando ao “Inhozico”, o Mário de Cerqueira Netto (seu pai) que foi prefeito da cidade em 1924, ao assumir no lugar do falecido Salomão de Paiva… lemos nomes mais recentes na política e que permeiam a família Netto.
Mauro Campos Netto – sobrinho (nosso entrevistado); Fernando Netto (neto); Mauro Netto Faiad (neto); Fernando Netto Safatle (sobrinho).
Família
Maria Izabel de Mendonça, esposa; os filhos Mário de Mendonça Netto; Yedda de Mendonça Netto; Álvaro de Mendonça Netto e Marly de Mendonça Netto Faiad.
FOTO: Maria Izabel, João Netto de Campos e Silvio Netto de Campos
Pioneiro em tudo que fazia
O destemido João – de nome comum, mas personalidade incomum – pilotava seu próprio avião nos idos de 1946, entre Uberaba (onde tinha o Zebu) e Catalão; fazia sua campanha política ao levar uma faixa na cauda da pequena aeronave: “Vote João Netto”.
Um visionário.
FOTO: Na década de 50 João Netto e Juscelino inspecionam local onde seria construído o Aeroporto de Catalão
Nascido aos 19 dias de janeiro de 1911, o catalano emblemático completaria 105 anos em 2016. João Netto de Campos está enterrado no jazigo da família no cemitério municipal de Catalão.
Deise Pasquarelli – Pietro Comunicação
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