Mauro Campos: Uma Vida Dedicada à Justiça e ao Conhecimento

Há nomes que se inscrevem na história não apenas pelo que fizeram, mas pelo modo como fizeram. Mauro Campos, nascido em 28 de setembro de 1928, em Catalão-GO, foi um desses homens que moldam o tempo e deixam rastros perenes de sua existência.

Filho de Frederico Campos e Joana Lopes de Campos, cresceu sob a brisa quente do cerrado goiano, com o olhar voltado para o horizonte e o coração carregado de sonhos.

Desde cedo, sua alma inquieta buscava respostas nas letras, nos livros, na vastidão do conhecimento. Catalão lhe deu as primeiras lições, Uberaba lapidou seu intelecto e o mundo jurídico abriu-lhe as portas para um destino de grandeza. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, com a obstinação dos que compreendem que o saber é a única herança que jamais se dissipa.

Mas Mauro Campos não apenas aprendeu – ele ensinou. Para seguir estudando, dedicou-se ao magistério, transformando a difícil travessia do aprendizado em um caminho iluminado pela paixão por ensinar. Lecionava para poder estudar e, depois, estudava para lecionar. Essa relação com o conhecimento nunca o abandonou, pois sabia que a justiça não se faz apenas nas cortes, mas também na sala de aula, onde se semeiam as primeiras noções de ética, dever e dignidade.

O destino, porém, lhe reservava outro palco: o da magistratura. Em 25 de setembro de 1962, ingressou na Justiça como juiz de direito substituto da 5ª Zona Judiciária, na comarca de Rio Verde-GO. Mal sabia ele que aquele era apenas o primeiro degrau de uma ascensão marcada por méritos incontestáveis. No mesmo ano, em 11 de dezembro, foi promovido para Petrolina, e em 1966, por reconhecimento de sua competência, chegou à comarca de Ceres.

Com passos firmes e decisões sempre pautadas pelo senso de justiça, Mauro Campos trilhou seu caminho até Goiânia. O Tribunal de Justiça de Goiás reconheceu nele um homem de saber e retidão, promovendo-o ao cargo de desembargador em outubro de 1977. Anos depois, em um dos momentos mais simbólicos de sua trajetória, foi eleito presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) para o biênio 1993/1994.

Mas a grandeza de um homem não se mede apenas pelos títulos que carrega, e sim pela forma como os carrega. Mauro Campos nunca vestiu a toga como um símbolo de poder, mas como um manto de responsabilidade. Cada decisão era uma ponderação entre as leis e o humano, entre a norma e a vida, entre o escrito e o justo.

Mesmo após sua aposentadoria, em 1999, não abandonou a causa que abraçou por toda a vida. Trabalhou como assessor especial na Presidência do TJGO, de forma voluntária, até o último dia de sua jornada. Para ele, a justiça não era um ofício passageiro, mas um compromisso eterno.

O Legado de um Homem Justo

Além dos tribunais, Mauro Campos encontrou na palavra escrita uma forma de eternizar seu pensamento. Em Catalão, ajudou a fundar e manter jornais, deixando sua marca na imprensa e na literatura. Ali, foi mais do que um magistrado: foi um pensador, um educador, um construtor de ideias. Foi também titular de um cartório, registrando não apenas documentos, mas a história viva de uma comunidade que lhe era tão cara.

Viúvo por 41 anos, soube transformar a ausência em força, dedicando-se inteiramente aos cinco filhos, seis netos e uma bisneta que deixou como parte de sua maior herança: a família.

Na manhã de 30 de junho de 2011, o tempo, senhor de todos os destinos, decidiu encerrá-lo em sua eternidade. Mauro Campos partiu no Hospital Santa Helena, em Goiânia, deixando um vazio que nem os códigos, nem as leis, nem os livros poderiam preencher. Seu corpo foi velado no Cemitério Jardim das Palmeiras e sepultado no Cemitério Santana, mas sua memória segue viva onde quer que a justiça seja honrada, onde quer que um professor inspire seus alunos, onde quer que a palavra escrita ecoe com verdade.

Dizem que os grandes homens nunca morrem. Talvez Mauro Campos seja a prova disso. Pois enquanto houver uma sala de aula, um tribunal ou um coração que pulsa por justiça, seu nome será lembrado – não apenas como um magistrado, mas como um guardião da sabedoria e da ética, um homem que fez do conhecimento e da justiça o alicerce de sua imortalidade.

 

BERNARDO GUIMARÃES NA HISTÓRIA DE CATALÃO por Mauro Campos

O processo criminal instaurado contra Bernardo Guimarães quando aqui desempenhava as funções cumulativas de Juiz Municipal e Delegado de Polícia, indubitavelmente se afigura de grande importância ao acurado estudo da vida e obra do notável poeta e romancista mineiro.

As causas desse famigerado processo originaram-se de perseguição ao Autor de “O Índio Afonso” por ter notabilizado Catalão, através de seus candente artigos divulgados pela imprensa do Rio de Janeiro, em muitos dos quais se verberava a política dos chefes Municipais.

Pelos idos de 1861, recém-saído da Faculdade de Direito de São Paulo, Bernardo Guimarães foi nomeado Juiz Municipal do têrmo de Catalão, sede da Comarca do Rio Paranaíba.
Em aquí chegando, fez-se ele amigo de plêiade de jovens talentosos e idealistas, adversários todos do então Presidente da Pro-víncia, José Martins Pereira de Alencastro, evidenciando-se dentre eles o futuro Senador do Império, Antônio Paranhos, anos depois assassinado nesta cidade.

Em virtude de denúncia apresentada contra o Juiz de Direi-to, Dr. Virgínio Henrique Costa, magistrado brilhante, mas vingativo e político, promoveu Bernardo Guimarães o competente pro-cesso. Logo após o julgamento deste, o Juiz Virgínio em represá-lia, conseguiu do Presidente da Província de quem era amigo e correligionário político, a necessária Portaria, datada de 30 de outubro de 1861, para iniciar o processo contra o Juiz Bernardo Guimarães, como incurso em vários dispositivos do Código Criminal do Império.

Chamado a defender-se, o Autor dos Cantos da Solidão, em dez longas páginas, fez, do próprio punho, as suas alegações, mos-trando, no final, a grandeza de sua alma, aima tristonha de poeta boêmio e sentimental, que chorou ao saber da morte do seu cavalo preferido, conforme declara Agripino Grieco.

Acusado de conduta irregular e embriaguês, esclarece: “O respondente não se inculcará por certo como modelo de sobriedade e de regularidade de conduta; solteiro e não tendo chegado ainda ao inverno da vida, ainda não se resignou a viver vida cenobita, nem renunciou os prazeres do mundo; por isso mesmo que é de temperamento melancólico, folga de se envolver na alegria dos festins, ama os prazeres da música e do vinho, a dança, e as mulheres, a música e toda a espécie de regozijos, porque soem suavisar as amarguras desta vida árida e ingrata. Mas ninguém provará que prorrompesse em excessos escandalosos, nem que corresse após prazeres e os festins em menoscabo do desempenho consciencioso de seus deveres. Se o respondente é inclinado aos deveres é porque é homem e acha-se por isso sujeito a uma das condições da humanidade, que sofre bem poucas exceções. O próprio denunciante, se não é algum anacore-ta, o que não é de crer, não estará sujeito a essas pequenas fraquezas?”

Em 23 de junho de 1862, foi Bernardo Guimarães absolvido por sentença exarada pelo então Juiz de Direito Substituto, Manoel Pereira Cerqueira.

Não seria contra-senso, embora o pareça, afirmar-se que o processo criminal movido contra o grande escritor se transformou em glória para Catalão, porquanto, através dele, o Autor de “O
Ermitão de Muquém” deixou o seu ilustre nome vinculado indelevelmente à história da progressista cidade centenária.

Pena é que os autos do famoso processo não mais se encontram nos arquivos do Cartório do 2° Ofício local. Consoante afirmam o Sr. Odilon A. Campos e o Dr. José de Campos Netto, antigos serventuários do 2° Ofício, o processo se acha em poder do Dr.
Guimarães Lima, desde quando aqui exerceu com brilhantismo, as funções de Promotor de Justiça.

Confiamos no espírito esclarecido e altaneiro do estimado fun-dor da Escola de Educação Física Hermano Ribeiro, esperando que, num belo gesto de amor a Catalão, ele devolva ao Cartório os autos do memorável processo, para nós de inestimável valor, não apenas jurídico, mas histórico e literário.


SONETO
Palmeira triste, quérula guarida

Dos voluptuosos sonhos de esperança

Que minh’alma, de amor embevecida,

Sonhava em meigas noites de bonança.

Quantas vezes, à tua sombra mansa

Descansei dos enfados desta vida,

Pois só tu cicatrizas a ferida

Da irriquieta e cruel desesperança.

Já que em vida tu és a confidente,

A que soluço e estampo amargamente

As mágoas de terrível abandono,

Suplica, a Deus, palmeira solidária,

Que à tua fresca sombra solitária

Meu corpo durma o derradeiro sono.

 

 

 

Texto: Maysa Abrão

FONTE: Cornélio Ramos ( Letras Catalanas) 

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